Nuvens e abelhas

Saudade é um ferrão de abelha
Que alguém coloca na gente
Pra nunca mais sair, fica ali,
Doendo pra todo o sempre
Na memória e no coração ferroados

Esses dias um ferrão tem doído muito
Já faz vários anos que não te vejo
Dei-me conta que nem sei mais
Por onde anda, onde mora, como está
Nós, que já fomos da mesma colmeia

Bateu saudade daquele tempo bom
Das brincadeiras, dos risos e sorrisos
Mas principalmente das gargalhadas
Essas, confesso, nem me lembro como soltar
Ficaram pra trás numa curva qualquer da vida

Naquela época havia problemas, claro,
Dificuldades sempre existem, hoje também,
Pelo menos lá no passado eu tinha você
A poucos passos de distância, qualquer hora
Para ajudar a escalar montanhas e vencer marés

É o mais cruel dos deuses, o tempo,
Passa implacável aos nossos desejos
É avião rasgando nuvens sem piedade
Arrasta-nos junto a ele, contra vontade
Quando percebemos, estamos no destino final

De princípio, senti saudades da juventude
Do descompromisso, do lado sonhador,
Dos passeios, dos amores de então
Julguei que era nostalgia, coisa da idade,
Um sentimento que os jovens não têm

Mas, foi aí que me dei conta
Que o ferrão que me dói no peito
Não é por conta daquela época. Não!
A saudade é de quem me fez feliz no passado
Hoje sei, mas agora é tarde, minha abelha é você

Celso Garcia

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