Profissionais do coração

Quando se fala de coração, logo se pensa no amor. E as várias formas de amor logo são adoradas ou odiadas pelas pessoas. Por diversos motivos. Dos dois lados. Até existem sim motivos para se idolatrar esse conceito, assim como pra detestá-lo. Mas, de toda forma, o amor permeia a vida humana desde que nos reconhecemos como tal. Claro, como tudo na vida, esse é um conceito que sofre mutações através dos tempos. Não tinha como ser diferente, pois nós mesmos mudamos nossas formas de pensar de modo tão veloz que nos assusta, por vezes. Daí que a visão do amar hoje é muito diferente da época de Machado de Assis e José de Alencar. Ainda mais o tipo de amor que desejo tratar aqui.
Existe um grupo de profissionais que é unido unicamente pelo coração. São os artistas. Sejam na pintura, no desenho, no teatro, no cinema, na TV, no circo, na música ou na dança, todos se reconhecem como artistas unicamente por causa do coração. Sim, pois, apesar de fazerem parte do escopo da arte, todas estas manifestações culturais são diferentes. Inclusive cinema, teatro e TV são diferentes entre si. Mas por que então o coração os une? Simples. Todo artista, de verdade, quando está trabalhando, faz tudo com o coração, e não com a razão. Ele se doa em prol de sua personagem, sua música, seu picadeiro ou sua tela. Precisa se entregar de corpo e alma. E é isso que encanta o espectador.
Ninguém vai a um evento cultural se não sentir a doação do artista. É no timbre da voz, nos gestos cênicos, nas pinceladas e nos diversos malabarismos que o artista conquista o seu público. E não se consegue isso apenas racionalmente. É preciso que haja sentimento na coisa. É preciso colocar amor na performance. É preciso estar lá com o coração. Até mesmo porque quando se faz com amor, se conquista muito mais facilmente os corações da platéia. E cativa-os durante todo o evento. Uma peça em que o publico possa se enxergar na trama tem muito mais sucesso que outra onde ele fique em sua condição de espectador, puramente, numa obra totalmente desconexa que passa por seus olhos em cima do palco.
Enfim, tudo na vida depende do envolvimento emocional. Não se faz bem nada se não se gostar do que se está realizando. É claro que a razão influencia tudo, que é pela razão que somos capazes de pensar e tudo mais, mas sem o coração, tudo perde o brilho. Aliás, o brilho da vida está no amor. Nas várias formas da manifestação deste sentimento. E assim é um artista. Quando se faz arte, seja sua arte diferente de todas as outras, se faz uso do coração. É isso que liga vários tipos de artistas espalhados por aí. Pergunte a um destes o que o move? Ainda mais no Brasil, que não incentiva a cultura como deveria. Certamente ele te falará do amor que ele tem pela profissão. Mesmo com todas as dificuldades, inclusive a financeira.
São profissionais do coração. Sabem usá-lo em sua plenitude. São pessoas que não conseguem viver de modo diferente. Se o amor é um sentimento perigoso, por deixar que a paixão o mascare, é um sentimento nobre, que move as pessoas a encantar outras pessoas, e fazer do mundo um lugar um pouco melhor para conseguirmos viver. Valorize o artista que você conhece, e até mesmo o que há dentro de si mesmo. Sem ele, certamente metade da sua própria alegria de viver não existiria.

3 comentários:

  1. Penso que qualquer profissão para ser bem exercida deve ser realizada com amor, por mais difícil que seja.
    E como vc bem colocou " Não se faz bem nada se não se gostar do que se está realizando".

    Parabéns pelo post, Bjs

    ResponderExcluir
  2. Belo texto.. depois de muito tempo em stand by esse lado se manifestou ha um ano, e desde então passei a investir nas músicas que componho.. se quiser dar uma olhada: http://ilhadosaqui.blogspot.com/
    abraço, hugo

    ResponderExcluir
  3. Nós, artistas, somos assim, né Leo? Como bem disse, não consigo viver de outro modo, cara! É impossível! E, nossa, que texto. Me deixou sem fôlego, até porque é dirigido para pessoas como eu, como você próprio e outros por aí. Arte ♥

    ResponderExcluir