Jamais sentira aquilo
Tão dado à tristeza
Estranhou se ver feliz
Diante de tanta incerteza
Quase desistiu, por um triz
Aquele domingo fez sentido
Assim como toda sua vida
O beijo daquela morena
Fez-lhe o peito disparar
Ah, Açucena, Açucena
Cheiro de flor paira no ar
Serafim, um nobre pobre
Maltrapilho, judiado, arredio
Mas, de coração purinho da silva
Cansado de empurrão e pontapé
Dançou, pulou, deitou na relva
Entregou-se ao que vier e der
Céu azul cantou
Os pássaros fizeram coreografia
Quando Açucena acenou pra ele
Se aconchegaram, Serafim estremeceu
- Isso aqui é coisa de pele
Vem ser feliz mais eu
Não foi filme, nem novela
Sonho até podia ser
Ele, tão acostumado
A ver o mundo pelo avesso,
Ainda que ali tudo tivesse acabado
Pra Serafim era só o começo
Celso Garcia
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