Livro em Cena: "Irmão Negro"

Olá, pessoal! É com muita alegria que chego a mais um “Livro em Cena”. É sempre bom poder fazer duas coisas que adoro em apenas um post. Aqui eu divulgo um livro - o que é muito importante, haja vista que nosso país, infelizmente, não é, por assim dizer, muito dado aos livros – e faço um roteiro, coisa que gosto muito porque aguça minha imaginação, e, por meio dele, posso dividir minha visão do texto com vocês.
Este mês escolhi um autor que, para mim, é um dos melhores da atualidade. Trata-se de Walcyr Carrasco. Brilhante autor de novelas, ele também escreve livros, e o que me agrada muito é o estilo de escrita dele, que não deixa com que as histórias fiquem enfadonhas. Sim, confesso-me um fã das obras do Walcyr Carrasco. Pra mim é um prazer enorme indicar um livro dele. Escolhi “Irmão Negro”, porque, nele, Walcyr consegue tratar com uma sensibilidade ímpar de um dos maiores problemas do Brasil: O preconceito. Essa é a pior praga que pode contaminar uma sociedade. E falo de todos, sem exceção. 
Walcyr Carrasco trata neste livro de preconceito racial, algo que todo mundo finge não ter, mas que age, talvez até de modo inconsciente, guiado por ele. É um livro que recomendo muito que vocês possam comprar. Nesta cena, Léo e seu novo irmão, Sérgio, vão nadar na piscina do prédio de duas amigas de Léo. Vejam só o que vai acontecer!! Uma história incrível, abordada de um modo bem interessante. Boa leitura!

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CENA: PREDIO DE JOYCE E CLARISSE – DIA – EXTERNO 

(Toda a ação acontece dêem uma rua, num espaço de um quarteirão)



Sérgio e Léo chegam ao prédio de Joyce e Clarisse.
Eles estão animados. 
Léo, sorrindo, vai falar com o porteiro.
Sérgio o espera no portão do prédio.


Léo: Por favor, avisa a Joyce e a Clarisse que chegamos?

Porteiro: Ok!



Léo volta à entrada do prédio, para esperar com Sérgio a liberação do porteiro.
Eles estão alegres, rindo sem falar nada.
O porteiro demora um pouco, mas vai falar com eles.

Porteiro: Elas já vão descer!
Léo: Vamos indo pra piscina então.
Porteiro: Desculpa. Elas falaram que vão vir aqui.

Léo estranha a atitude do porteiro.
Joyce e Clarisse aparecem.
Joyce está sorrindo.
Clarisse está sem jeito.

Léo: Aconteceu alguma coisa?
Joyce: Ah, Leo, você nem sabe. O síndico proibiu gente de fora na piscina. Avisou minha mãe hoje cedo!
Clarisse: É isso mesmo, Leo. Não vai dar pra você e ele nadarem aqui.
Léo: Que chato. Então a gente podia ir brincar lá na pracinha.

Joyce e Clarice se olham, confusas. 

Clarice para de mascar o chiclete.

Joyce: Também não vai dar. Eu e Clarice vamos ajudar minha mãe na limpeza da casa. Depois da festa de ontem, o apartamento ficou uma ba gunça. Fica pra outra!

Sérgio fica visivelmente chateado. 
Os dois se despedem e começam a voltar para casa. 
Léo vê a videolocadora na esqui na do prédio.
O portão está aberto. Mas a porta de entrada fechada.
Eles chamam, mas ninguém os atende.

Léo: Que pena!


Ao fechar o portão da videolocadora, Léo vê Gabriel no prédio de Joyce e Clarisse, com uma toalha na mão.
Léo vê Joyce, sorrindo, abrindo o portão para Gabriel.
Com raiva, Léo resolve tirar satisfações com Joyce.
Ao começar a andar, sente Nice tocando seu ombro, e se vira.

Nice: Foi a mãe das meninas. Ela não quer que vocês nadem na piscina do prédio.
Léo: Por quê?

Nice olha para Sérgio, e faz um sinal em sua direção. 
Sérgio está distraído lendo um car taz pregado no muro.

Léo: Mas o que ele fez de tão ruim?
Nice: Leo, se toca. Parece que anda com a cabeça na lua! Você devia ter percebido tudo quando chegou na festa, ontem. Viu a cara da mãe delas? E da Joyce? E da Clarice?

Léo abaixa a cabeça.

Nice: Quando elas me ligaram de manhã, pedindo pra disfarçar se encontrasse com vocês na entrada do pré­dio, fiquei louca da vida.
Léo: Porque não me disse nada?
Nice: Eu tentei avisar! Pra você não passar pela vergo nha de ser barrado. Mas quando cheguei na sua casa vocês já tinham saído. Cheguei tarde, não?
Léo: Deixa pra lá, Nice.

Léo abaixa a cabeça novamente e começa a chorar.

Nice: Não chore.
Léo: Não estou chorando.

Léo limpa as lágrimas com a mão.

Léo: Vai nadar com eles. Você não precisa brigar com a turma por minha causa.

Nice vê Sérgio com os olhos cheios de lágrimas.

Nice: De jeito nenhum, Leo, eu sou sua amiga. E do Sérgio também. Vocês podem contar comigo!
Léo: Obrigado, Nice. 

Sérgio olha para Nice, ja chorando.

Sérgio: Obrigado, Nice.

Os três se abraçam.

3 comentários:

  1. Adoro quando tem "Livro em cena". Parabéns, amigo. Abs.

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  2. LÉO,

    Pra variar um estilo próprio de escrita, que torna a cena mais comum repleta de relações interdependentes e tranbordante de emoção. Assim, você sempre consegue prender minha atenção.

    Continue a escrever por favor.

    Abraço.

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  3. Adorei o trecho do livro! Como sempre, muito bem escrito, e me fez ir até a cena que estava acontecendo. ADOREI!

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