Simples Assim

"A pessoa que te faz respirar pode ser a mesma que tira o seu ar..." 

Era de tarde. Sempre é e sempre será de tarde, como quase todas as vezes em que nos vemos. 
Talvez fosse culpa do sol, das suas sardas, do seu sorriso, mas eu estava presa. 
Era como se garras imaginárias me mantivessem ali, e, no entanto eu estava apenas segurando uma de suas mãos.
A conversa seguia rumos diferentes: - “Eu vou comprar um Oxford!” “Eu também, mas eu quero um vermelho...” “A gente pode ir comprar depois do seu trabalho, não?” “Sim, claro! Você terá as noites livres e eu também...” 
Eu sempre arrumava um jeito de não perder o fio da meada, só pra ver mais um sorriso, só pra ficar mais um pouco perto de ti. Era normal, eu precisava disso, sabe? De “respirar você”. 
Eu sei, ainda temos a eternidade pela frente, mas o agora ainda tem valor pra mim. 
Disse que ia embora. Disse para eu ir te visitar. E ficou me olhando com aqueles olhos claros, que no sol, ficam ainda mais lindos. 
Me abraçou, daquele jeito inocente, mas de quem Ama demais. 
Segurou meu rosto com uma das mãos e me beijou. 
Aproximou calmamente seus lábios dos meus, como se nós fizéssemos isso desde sempre. Mas não, é possível contar nos dedos de uma única mão quantos beijos nós demos durante todos esses anos... 
De um jeito mágico usou seus lábios para abrir caminhos por entre os meus. 
Suave. Sem apertões, beliscões. Sem me prensar, me apertar, sem sussurrar. 
Capaz de me deixar sem fôlego, de me fazer ficar em outro plano, de não acertar a chave na fechadura do portão de casa. 
Disse que me Amava. E mesmo que dissesse mil e uma vezes consecutivas, em cada uma delas, o efeito seria diferente, e a intensidade ainda maior. 
Acariciou minha cabeça, beijou meu rosto e foi. 
Me equilibrei pelos muros, olhei diretamente ao chão. Perdi meu ar. 
Ele sabia me fazer respirar, sabia fazer eu ficar bem. Mas sabia também, e como ninguém, tirar meu fôlego. De uma maneira simples, que não doía. 
Desse jeito, eu poderia ficar sem respirar pra sempre.

Andresa Alvez

Um comentário:

  1. É o puco do momento que define uma sensação. Esse pouco é muito. E o fôlego... Ah! Quem se importa em respirar numa situação dessas?

    Amei amei

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