Batizado

Sempre achei que tratar as pessoas e as coisas por um nome demonstraria que eu dava a elas real atenção e cuidado. E assim tem sido, desde... sempre? Não. Não desde sempre. Mas já faz alguns bons anos que gosto de tratar as coisas e pessoas a minha volta, todas com um carinho especial, para que seja nítido que as tenho grande apreço, e o quanto são únicas para mim. Não me recordo de, quando criança, chamar os novos vizinhos de “menino” ou “menina”. Sempre lhes perguntava o nome antes de tudo.
Os tempos vêm se passando, e a cada novo dia eu vejo o quanto cada coisa é única. Pode haver dez bonecos absolutamente iguais, mas seu eu lhes entregar amor, e batiza-los com um nome, um nomezinho qualquer, por mais bobinho que seja, aquele será, para mim, um componente de minha vida.
Sempre quis ter filhos. Mais de um. Sempre lhes escolhi nome, e batizava-os em meu coração e pensamento, sem parar para ser racional, e olhar as circunstâncias à minha volta (como idade, por exemplo). Mas quem é que nunca imaginou, ao menos uma vez na vida, como seriam as feições e a personalidade de um filho? Eu fiz isto muitas vezes. A primeira coisa em que pensava era o nome. Até hoje, já mudei de idéia um milhão de vezes, tanto em relação ao número de filhos, quanto (principalmente) aos nomes. Mas o que me vale é o sorriso que nasce em meu rosto quando penso em um novo nome, e o quanto este nome soaria lindo no (meu) momento (atual).
Hoje dou nome pra tudo. E tudo quanto dou nome, é para mim essencial. Não vendo, não troco, não dou, não empresto. São minhas crias. São meus pedaços. Amo-os, cada um. Meus mais valiosos tesouros são minhas composições. Quando escrevo minhas canções, por exemplo, não me considero ‘inspirado’, se o nome da canção não brotar como um susto, e me provocar um choque de emoções. Sempre desejo que o misto de emoções que sinto quando crio, seja o mesmo que as pessoas sintam quando ouvirem. Mas este ‘orgasmo espiritual’ deve começar no nome. O nome tem de ser forte; E isso não significa que tem de ser uma palavra que remeta á impacto, nem que seja derivada de força. Tem que ser o fruto. O fruto dos sentimentos encharcados em sinceridade, que compõe cada uma das partes da canção.
Ainda falando em filhos e frutos, o nome tem de estar em sintonia com a essência, com o sentimento primogênito. Hoje, não mais penso que “a minha filha de cabelos castanhos irá se chamar Valentina”. Quando esta nova vida vir ao mundo, quero segura-la com toda a ternura do mundo em meus braços, beijá-la sem parar, sentir muitas vezes o seu cheiro, as suas texturas. Vou olhar no fundo de seus olhos, mirar cada um de seus traços, e então saberei, sentirei. Meu coração fará a denúncia, e aí, então, brotará o que denominei “sentimento primogênito”. Vou saber se, veio ao mundo Valentina, Olívia, Benedita, Antônia ou Hornela. Sei que vou saber. Vou sentir.
E então, junto com a minha nova ‘canção’, virão suas bonecas, ursinhos, animais de estimação. Para todos eles, um nome. Não se preocupe, há nomes para todos. Porque o nome de cada nascido em mim, e batizado em algo ou alguém, é resultado do infindável Amor que habita em meu peito. Enquanto eu viver, haverá Amor. Enquanto houver Amor, haverão nomes.
Dedico este post as minhas três plantas, Matilde, Teresa e Benedita. E também ao Bento, á Ninha, á Rebecca, ao Half, ao Nino, á Mily, á Lola, e ao eterno Serpelinho.
Ah, e podem ter se passado muitos anos. Mas se caso vocês estiverem lendo este texto agora: Filhas, o Pai Ama Vocês!!!

Cláudio Rízzih

9 comentários:

  1. Muitooo bom o texto! Parabéns, Claúdio. Alta qualidade, o Léo fez uma ótima escolha quando lhe fez o convite em participar deste blog.

    Sabe, eu também tenho mania de dar nomes as coisas, de ficar escolhendo os nomes que darei aos meus filhos...quando criança dava nomes as bonecas e por incrível que pareça ainda lembro o nome de cada uma delas, parece meio estranho isso, mas quando tomamos amor a algo queremos batizar, referir aquela coisa por um nome especial, que só nós mesmos que entendemos o porque daquele nome.

    Bjinhos

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  2. Obrigado Fernanda! Que bom que você gostou. Só de ter lido, fiquei muito Feliz!

    Pois bem, se és assim também, de dar nomes, entendeu perfeitamente o sentimento do texto.
    E, vá, é uma brincadeira deliciosa esta, não?! rs
    Continuemos assim então. Tornando as coisas únicas, e especiais em sua peculiaridade.
    Beijos, Sucesso!!!

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  3. Cláudio, o texto ficou perfeito. Parabéns!
    Super importante nomimar as coisas, pessoas!!!!!
    Espero ver mais textos como estes no Blog!
    Grande abraço
    Márcio Silva!

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  4. Olá Márcio...
    É mesmo importante dar nomes, rs.
    Verás. Se quiser, visite também meu espaço.
    Abraços e Luz!

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  5. Não sei..... nao sei se a vida e curta ou longa demais para nos... Mais sei que nada do que vivemos tem sentido, Se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, solêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que sacia, amor que promove.E isso que não é coisa de outro mundo:É o que dá sentido á vida. É o que faz com que ela não seje nem curta ...nem longa demais... masi que seja intensa, verdadeira e pura ... Enquanto durar.... "

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  6. Claudio, ameiii..."A imaginação é a visão da alma", já dizia Joseph Joubert.
    Esse texto me traz muitas lembranças numa sequencia de fatos e acontecimentos, que se repetem no mundo das minhas emoções...
    E todos nós somos um pouco poetas qdo convivemos com o desconhecido, plenos na alquimia da insegurança!
    Abraços.Helena

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  7. Belo texto! Além de muito bem escrito, repleto de sentimento. Parabéns. Um abraço.

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  8. Gostei muito do texto, muito bem escrito e muito bem sentido. Bem como são os nomes, projeção escrita de como sentimos ou percebemos algo, de forma inteiramente singular. Acho q isto explica pq tenho a enorme mania de renomear pessoas com nomes que acho que se parecem -mto- mais com elas do que com os que de fato tem... :S (rs)

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