À pouca luz

Saulo acabara de acordar de um sono muito profundo. Mas ele não está em casa. O lugar era predominantemente escuro, iluminado apenas por uma lâmpada bem fraca, que ficava bem acima da cama onde ele estava deitado, que era a única coisa que ele conseguia visualizar ali. 
Olhando para a direção dos seus pés, ele viu iluminada uma mão de homem, e, na penumbra, dava para distinguir, e existia ali uma pessoa que ele não conhecia. No primeiríssimo momento, o medo, natural, tomou conta dele. Mas, aos poucos, ele pôde perceber que aquele homem não queria lhe maltratar. Ao menos não parecia.
- Oi.
- Olá!
- Onde eu estou?
- Isso importa?
- Claro. Eu quero saber. Posso?
- O que mais você quer?
- Quero saber como cheguei aqui.
- Você se lembra o que fazia quando perdeu os sentidos?
- Acho que não. Eu estou confuso. Foi uma merda muito grande?
- Isso é você quem precisa me dizer.
- Mas se eu não sei nem como vim parar aqui, e nem onde é que eu estou...
- Talvez você saiba, mas não quer admitir para si.
- Eu morri?
- Talvez.
- Cara, dá pra começar a me dar algumas certezas?
- Eu quero as suas certezas. Não te dar novas.
- Eu já não tenho mais certezas. Não aqui. Não assim...
- Que tal descansar mais um pouco? Talvez você precise de mais algum tempo.
- EU QUERO SABER ONDE EU ESTOU!
- Agora o que você precisa é de mais descanso.
- Por favor... Me conta...
- Acalme-se. Te contarei tudo no tempo certo. Acalme-se...

Saulo acabou se tranquilizando, mesmo com toda a tensão daquela conversa. Ele realmente estava cansado. Logo adormeceu novamente. Estava outra vez entregue e vulnerável. Mas ali não havia risco. Aparentemente não existia nada de tão grave naquele lugar.
O homem saiu dali. Fora da fraca luz, só se ouvia os passos dele. Foram uns sete ou oito. Até que um barulho de porta foi ouvido. E uma voz diferente também foi notada - não por Saulo, logicamente.
- Como ele está?
- Ele ficará bem.
- Contou algo sobre os outros?
- Não. Ele ainda está muito confuso. Mas isso é questão de tempo.
- Não temos muito tempo nesse estado.
- Meu caro, na guerra e na paz, o tempo é uma coisa relativa. E ele terá o dele. E nós teremos o que precisamos para agir...


Leonardo Távora

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