Ele esperou... Esperou até mais do que a eternidade. Ultimo fio, a lâmina preste a cortar a única linha de vida que o ligava a esse lugar. “Não quero”, dizia ele em tom doloroso. Mas não podia adiar, sua ida já tinha tardado e o fio não aguentava mais segurar a alma dentro de seu frágil corpo. “Irá voltar, eu sei que irá voltar”, esforçava-se ele para dizer. Porém todos ainda assim tentavam convencer aquele pobre homem que insistia em acreditar nos finais felizes. “Precisamos ir, o senhor sorrirá de novo.”. “Não, eu escolhi esse mundo e quero ficar.”, continuava ele. “Não pode terminar assim, não foi dessa forma que me contaram.”. Houve uma pausa pra uma respiração funda, das mais profundas e quem a incumbência tinha de leva-lo, os olhos baixava. Sabia que era um bom homem, de escolhas erradas, mas ainda assim um bom homem. Já estava acostumada a levar muitos, mas esse, logo esse hesitava e não sabia o por que. Talvez até ela desejasse a quem ele tanto chamava voltasse, mas não por ela, e sim pelo pobre senhor. Era difícil fita-lo, a dor misturada com esperança tocava os olhos com uma delicadeza das quais só vemos em asas de borboletas, mas ainda assim olhava, querendo conforta-lo... Olhava.
Os argumentos haviam acabado. Só restava leva-lo, mesmo sem sua autorização. Ela só cabia seguir o contrato: ele não tinha mais posse pela propriedade e sabia disso. “Aquele me prometeu viver e eu só chorei”, gritava com pouca as forças o homem. Ela sabia que nem tudo era justo, mas julgar nunca fora seu trabalho. Chorava, ele chorava aos montes. Estava perdido e agora iria ser despejado do único lugar que realmente conhecia. Tentava dizer que voltava, mas bem sabemos que a verdade nunca se esconde, apesar de boa parte das vezes tentarmos engana-la. E chorava, e gritava e perguntava por que, sabe-se lá do que. O fio coitado, olhava penoso pra ele, estava em seus últimos minutos. Ela não podia mais esperar, então estendeu a mão com sua foice para enfim o fio descansar. Tudo se movimentava lentamente, cada gesto, cada som, cada... A porta range. Num instante só ouvia-se o silêncio. Seu coração acelerou com uma ultima faísca de esperança, podia-se sentir seu sangue pulsar numa corrida contra o tempo, seus olhos a porta não deixava, passava milhares de recordações por suas lembranças até que em torno de toda aquela tristeza, ele finalmente sorriu. Abre-se a porta e de fora uma luz como nenhuma outra invade todo o quarto deixando cego quem dentro estar. O silêncio se quebra e numa mistura de som se ouve: Doutor, ele morreu!
Sandro Aragão
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