Cordel do Finado Defunto

Foi surpresa pra todos
Causou grande comoção
Quando o finado seu Ildebrando
Se levantou de seu caixão

A ex-viúva caiu de costas
O Totó abanou o rabo
O credor voltou a ter esperança
E o pastor culpou o Diabo

Ildebrando de um salto só
Deixou pra trás seu ataúde
Teve gente se perguntando
“Cumé que ex-morto tem tanta saúde?”

Foi aquela correria desatada
Lá nas terras do meu sertão
Quando o renascido começou
A distribuir apertos de mão

Agradeceu dona Azaleia
Que nem sabia o que tinha feito
O mesmo com o padeiro,
O seu polícia e o prefeito

Ildebrando ora era todo sorriso
Ora chorava de gratidão
Fazia mesura e reverência
Provocando no povo a indagação

“Diga lá, seu morto vivo
Mó de quê agradece tanto?”
“Tu voltou do céu pra abençoar?”
“Ou do inferno pra trazer espanto?”

Ildebrando secou as lágrimas
Recuperou a voz tão abatida
E disse, “Minha gente,
Eis-me aqui de sobrevida

Nos meus anos todos de vivo
Sempre fui achincalhado
Agora, depois de morto
Me fizero santificado

Quando do outro lado ouvi
Tanto elogio a meu respeito
Pedi a Padim pra voltar ligeiro
E tive meu pedido aceito”

E tão de repente como quando corou,
Ildebrando empalideceu a tez
Deitou-se de novo no caixão
E pronto, morreu de vez

Celso Garcia

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