Interno

O meu braço estava arrepiado, e dessa vez nem era por culpa dele. O vento do mar no auge de Janeiro me dava certo frio.A essa altura, até minhas roupas íntimas cheiravam a “Sampoerna”, igualmente como a essa altura eu não me importava mais com isso. Chegar em casa e ter aquilo para lembrar dele era reconfortante.
Eu sei que soa estranho, mas brigue com ele se o cheiro de perfume importado deu lugar a nicotina.
O braço direito me envolvia, jogava a fumaça para o alto.

- Não tá com fome? Lá em casa você disse que estava morrendo de fome... – Perguntou preocupado.

Se preocupava com a minha anemia, com meus problemas e outras doenças, mas não fazia ideia que a falta dele judiava de mim bem mais que qualquer coisa que atacasse meu organismo.
- Aquilo foi truque para te trazer pra praia! – Respondi com um sorrisinho malicioso.

Enquanto fazia cara de assustado continuei: - O que foi? Eu acho que também preciso ficar um tempo sozinha com você... – Concordou comigo em silêncio.

Perdemos a noção do tempo naquele banco. É isso que acontece quando não se usa relógio de pulso... Aquele dia me fez lembrar todas as tardes no nosso banco, só que agora mais maduros, com mais responsabilidades, mais planos, mais desejos, mais Amor.
O céu que era azul foi se tingindo de rosa, para em fim ficar completamente azul marinho, quase preto. As pessoas desarmavam suas cadeiras de praia, a rede de vôlei era armada, os jovens passavam indo em direção aos bares, e nós dois ali, como se não houvesse mais nada.
Segurando a minha mão para caminhar disse: - Você fica do lado de dentro da calçada... – Entrelaçou os dedos nos meus e me puxou. Note, ele não apenas segurou, ele entrelaçou.

As pessoas olhavam e eu tentava adivinhar o que elas imaginavam. Ele, do alto do meu lado direito, dizia que queria me levar a parques, eu sugeria uma viagem de três dias em alguma cidade daqui de perto. Eu queria esconde-lo do mundo e guardá-lo debaixo da minha roupa por pelo menos três dias.
As ruas movimentadas ainda assim me traziam paz. A paz que se sente quando se Ama. A paz que você acha que não existe, ou que perdeu. Mas que em dias assim você lembra que “só achava” mesmo, que não a perdeu, que só esqueceu. E quando se esquece você lembra. Sabe que lembra.
Falamos de roupas de inverno, de contas, do nosso Amor, do medo de sumir da vida do outro. Falei de como seus olhos desviavam-se dos meus quando te perguntava sobre mim.
Falei, perguntei, esclareci. E ele fez o mesmo. Dando o braço me levou até o carro.
- Não bebe tanta coca-cola – Ele disse num tom irresistivelmente fofo – Faz mal! Deixa que eu bebo! -
- Mas faz mal pra você também! – Indaguei.
Porém, não importava, ele SEMPRE estava certo. Sempre. Uma dica: Nunca se Apaixone por Leoninos. Dominá-los é arte. Beijou meu rosto e disse suas palavras de sempre. Palavras nossas que não cabe a ninguém mais saber além de nós dois. Deixou um pedaço da alma comigo e seguiu pela rua até sua casa.
Confesso que se eu pudesse voltaria, daria mais um beijo no rosto, agarraria sua nuca, daria um beijo de verdade. Parece que nunca é o suficiente. Parece que “tudo” ainda é pouco. Voltei sorrindo, dormi sorrindo. A minha pele parecia ter cigarros grudados nela e eu não fazia questão.
No banheiro de casa, antes de entrar no chuveiro, inspirei o cheiro da minha camiseta como se fosse uma droga, até que não restasse mais nada ali. Guardei tudo dentro de mim, assim ninguém te rouba, ninguém te leva.
Assim você fica no melhor lugar pra você, no lugar que é teu por merecimento: Aqui dentro.

Andresa Alvez

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