Inventando: "Instante Trágico"

É sempre bom voltar a escrever as cenas que apresento aqui pra vocês. Essas me dão um prazer particular por serem criações minhas. São retalhos imagéticos de recordações, ou momentos em que deixo a imaginação me levar, ou até mesmo, releituras de ideias que já tentei passar para o papel alguma vez e que ficou aqui no meu computador, esperando momentos como esse pra chegarem a você, leitor. Espero que goste da cena a seguir. Dramática, tensa, e com um tom sombrio que eu mesmo já duvidei que fosse capaz de passar pro papel. 
Boa leitura!

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CENA – AVENIDA / EXTERNA / NOITE 

Raios cortam o céu, seguidos de um barulho forte de trovão. As ruas estão quase vazias com poucos carros passando no horário. Chove forte. A água corre como correnteza nos cantos da avenida. O vento sopra forte. Embaixo de um toldo, Luciana (28 anos, bonita, mas mal cuidada, com cabelos crespos como que sujos) se encolhe trazendo no colo o seu filho Toninho (Uns 6 ou 7 anos, menino bonito e mal vestido, com uma blusa de frio de lã marrom) e uma sacola com compras. Ela tem um semblante sofrido. Seu olhar é triste. Toninho repousa a cabeça nos ombros de marina, enquanto suas mãos brincam com o cabelo de sua mãe. A chuva abranda, mas o vento continua forte e frio. Toninho interpela Luciana: 

Toninho 
Mamãe! Vamos pra casa. To com fome e com frio. 

Luciana 
Sim filhinho. Vamos só esperar a chuva acalmar mais um pouco e nós já vamos embora. A mamãe vai preparar uma sopinha pra você bem quentinha quando chegarmos em casa. Fica calmo, tá. 

Toninho 
Ta bem, mamãe! (mexendo nos cabelos de Luciana) Eu amo muito você, sabia? (Ele dá um beijo no rosto dela) 

Luciana 
Obrigada Toninho. Você é o maior tesouro da mamãe. Você é tudo pra mim, viu! (Ela acaricia o cabelo de Toninho e começa um choro tímido) 

Toninho 
Chora não, mamãe! Eu não quero que sofra. Olha, to aqui com você! Não tenha medo que eu vou te proteger. Sou forte. A senhora não diz sempre que o papai do céu tá com a gente? 

Luciana se emociona mais olhando Toninho, sorri e abraça seu filho bem forte. 

Toninho 
Mamãe, a gente vai ser feliz! Não chore mais viu? (ele dá outro beijo em nela)

A chuva pára. Luciana decide continuar a caminhada. Está com Toninho em um braço e uma sacola pesada no outro braço. Ela caminha com dificuldade pela calçada: 

Toninho 
Tá muito longe, mamãe? 

Luciana 
Não filhinho. Já estamos quase chegando. Mais um pouquinho e estaremos em casa. 

Agora a rua está deserta. Alguns carros quebram o silêncio passando ali. De repente, surgem dois carros em alta velocidade, disputando um racha. A pista está escorregadia. Ouve-se o som de uma freada brusca. Um dos veículos perde a direção, invade a calçada e atinge Luciana, que tenta proteger Toninho. Em uma TRAVELLING, vemos Luciana e Toninho jogados no chão. Então ouvimos uma voz:

Jovem 
Ih, cara. Cê pegou a mulher, velho. Vamos sair daqui logo. Vai, vai... 

Os carros seguem sem parar para ver o que aconteceu. O carro que colidiu com Luciana consegue ir embora sem prestar socorro. Ficam os corpos de Toninho (inconsciente) e Luciana (sentindo muitas dores). A sacola de marina está destroçada, e os alimentos esparramados no chão. Com muita dificuldade, Luciana consegue ver Toninho. Ela tosse e gofa sangue. 

Luciana 
(V.O.) 
Ai... Ai, que dor. Não vou aguentar... (olhando Toninho) Meu filho, senhor! Não me importo de morrer, mas salve o Toninho! Meu deus, não deixa ele morrer. Não permita!!! Não permita que ele morra. Por favor. 

Luciana chora muito com as dores. Ela não consegue se aproximar de Toninho. Sente que está desfalecendo. Um casal se aproxima: 

Anita 
(aflita) 
Por deus, Francisco! Esta mulher está agonizando e o menino parece morto! Depressa, vamos socorrê-la! 

Francisco 
De jeito nenhum, mulher. Vamos é acabar arrumando um enguiço para nós. Vamos embora! 

Anita 
(brava) 
Francisco, você me decepciona! Se não ajudarmos esta mulher que espécie de gente você acha que eu vou me sentir? 

Francisco hesita, mas se comove e abre a porta do carro, acomodando Luciana como pode. Anita pega Toninho no colo. 

Anita
Depressa, Francisco! A criança ainda tá viva! 

Francisco arranca com o carro e vai rapidamente para o hospital.

2 comentários:

  1. É ótimo ver vc escrevendo algo num clima de drama/suspense e explorando novos cenários. Meu voto vai pro Léo escrever um livro de suspense.

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  2. Hum, muito interessante, pelo visto a imaginação flui em todos os campos.. Adorei o texto, e fiquei com vontade de ver o fim, pelo visto só um instante é muito pouco! Muito bom, abraços Léo(1)

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