Esmalte

Para mim, o Amor acontece uma vez só.
Depois, fazemos ensaios e variações sobre ele.
Saímos do nosso primeiro verdadeiro Amor com um legado que consiste em bagagens abarrotadas de roupas mal passadas e manuais de como funciona isso ou aquilo. Quando nos relacionamos com um outro alguém depois de já ter amado, tem toda aquela história do “Olha, eu já passei por isso, então eu acho melhor...” E é aí que concluo que realmente o Amor acontece uma vez só. Amor é quando você não passou por nada disso, quando você se arrisca com tudo pela primeira vez: lambe a faca sem medo de cortar, faz Amor numa cama de pregos, confia com os olhos vendados por um pano imerso em ácido. Quando não se sabe o que fazer, como agir, o que dizer. Quando não se define, nem se procura por definições. Lembrando, claro, que este é apenas o meu ponto de vista.
Por mais harmonioso que ás vezes possa ser um relacionamento, sempre será um campo de concentração: você nunca sabe o que te espera.
O Amor é uma garrafa de whisky, um colchão de molas, uma ratoeira, um vidro de esmalte vermelho.
O Amor que lhe pintou as unhas com a vivacidade rouge, é o mesmo Amor que lhe tirou o brilho com acetona fresca. Azar o seu ter deixado resíduos debaixo da unha só pra poder mordiscar depois. Não é saudável, sabia?! Mas, convenhamos. Quem é que disse que conseguimos controlar o impulso?
Me pego perguntando: Então, você gostaria de não ensaiar variações e arriscar tudo de novo sem conhecer o terreno?
A verdade é que eu não sei a resposta. Isso vai ficar martelando em minha cabeça, mas tenho certeza que não vou chegar á conclusão alguma.
Contudo, mesmo sendo o Amor um acontecimento único, felizes somos nós que podemos Amar de novo. Seja ensaiando, variando, ou sob a felicidade terrível de descobrir que eu estou errado, e que se pode sim, mesmo depois do Amor mais forte de uma vida, repetir á dose.
A dose de whisky, de esmalte.
Os “Eu Te Amo” claustrofóbicos.
As queimaduras de terceiro grau resultantes dos sexos em ebulição.
O choro maricas diante da reprise do Amor em cena.
Tragédia. e comédia. Horror e pornografia.
Amemos.
Morramos.
Cláudio Rizzih

2 comentários:

  1. Cláudio,

    Uma bela reflexão.Uma ótima provocação. Concordo, que depois de termos Amado verdadeiramente uma pessoa,no próximo relacionamento tenhamos alguns “Olha, eu já passei por isso, então eu acho melhor...” . Mas, nem sempre isso é ruim. Com o amadurecimento pessoal e também do relacionamento, cresce também a vontade de mais acertos e por isso essas falas se tornam mais frequentes. Claro, que a emoção do terreno desconhecido é muito boa, mas a tranquilidade de uma mar brando...também não é de tão ruim. Além do que também, nos esquecemos em alguns momentos que aquilo que foi de uma maneira com uma pessoa, com a outra pode ser o oposto.
    Enfim...to aqui repensando algumas atitudes, estou iniciando um relacionamento com uma nova namorada, exatamente depois de ter amado uma outra mulher e me relacionado com esta por 4 anos.
    Parabéns pelo texto.
    Escreva mais....!
    Abs.

    ResponderExcluir
  2. Gostei muito desse texto. Teve toda a intensidade que só o amor...

    Concordo com "...uma garrafa de whisky, um colchão de molas, uma ratoeira, um vidro de esmalte vermelho." E é bom quando lemos algo e pensamos: "diria o mesmo!" mas a única coisa aqui que eu não diria, "Os “Eu Te Amo” claustrofóbicos", pois pra mim o gosto do "Eu te amo" é o mais libertador possível, tão solto, tão cheio de liberdade que as vezes voa pra longe demais.

    Parabéns ao autor.

    ResponderExcluir