Não se deve tocar o céu

Existem momentos em que achamos que nos faltam forças para continuar. São dias em que tudo o que queremos é entrar em uma caverna e de lá nunca mais sair. Talvez este seja o caminho mais fácil. Não agir é sempre mais simples que tentar e não conseguir. Pode ser que seja menos doloroso. Para a maioria das pessoas, cruzar os braços seja o que deve ser feito. O certo. Mas este certo indiscutivelmente pode fazer com que as coisas se acalmem dentro de nós. Dizem que o tempo conserta tudo. Não... Para mim não! 
Eu tentei tocar uma estrela no céu. “Que idiota!”, muitos dirão, certamente. Admito que possa ter sido este um sonho, sim... Um devaneio... Uma idiotice. Mas, óbvio, eu não falo para as pessoas que vivem de jogar fora os sentimentos das quem as ama, usando-as como se fossem brinquedinhos, joguetes. Provavelmente quem me ouve possui dentro de si sentimentos, e muitas vezes já passou por isso tudo. Muitas vezes já até viveu grandes amores, e não conseguiu fazer com que isso fosse duradouro. Talvez, você já conseguiu amar muito sem que fosse amado de volta. 
É sonhar demais querer sentir o brilho da luz de um olhar? É burrice achar que elas, as protagonistas de um belo céu, possam deixar seu mundo mágico e descer ao nível dos mortais, por amor? Não. Para mim não é. Mas talvez só para mim. Isso tudo que ora lhe falo, meu amigo que lê, são apenas reminiscências de um pequeno homem, que nunca foi grande o suficiente para sequer alcançar sequer o brilho de um belo ponto de luz de um céu noturno. Alguém que não conseguiu tocar, em seu íntimo, e fazer sentir-se como ela deveria. Ela, que desejava menos, bem menos que um universo fantástico para iluminar. 
Por várias vezes a vida nos coloca diante de encruzilhadas que podem nos levar para longe ou perto de quem amamos. Cabe a nós a decisão, e dela seguem-se as consequências. Eu entendi que quantas mais forem as decisões que eu tome para perto de minha luz, mais as decisões dela se darão para longe de mim, de tudo o que eu quero dar. “Parte pra outra”, você diria. A fila anda, não é? Sim, eu concordo. E diferente de quem deseja se afundar dentro de uma caverna, eu erguerei a minha cabeça para seguir em frente meu caminho. Sem forças, mas sigo. Quando andamos, pelo menos, nos aproximamos com mais dignidade de nosso fim do que se ficássemos parados. 
A vida segue, e chega uma hora em que precisamos colocar a cabeça no lugar, abrir o coração a ferro e fogo, para que possamos seguir vivendo. Claro, se ainda existir alguma força para isso. Aqui não há medo, nem crise alguma, de qualquer ordem. Aqui não há força para qualquer coisa. Hora de descer ao mundo dos mortais. De ficar quietinho, olhando aquela bela luz brilhar. De vibrar com a intensidade desta sua luz. Mas de longe, sem tentar tocá-la novamente. Sem tentar tê-la. Nunca alguém tão pequeno conseguiu tocar o céu. As estrelas foram feitas para serem apenas de outras estrelas, não de nobres sonhadores, porque, por mais que se viaje com o coração, ainda assim não dá para se alcançar o incrível reino desses fantásticos seres.
Leonardo Távora

2 comentários:

  1. Belíssimo texto, Léo! Bem a sua cara! Olha, eu acho que, hoje em dia, pedir pra enxergar tais estrelas em tanto cimento ou plástico é pedir demais sim. O que vemos são lanternas, luzes de bateria, de produção falsa e demarcadas. As verdadeiras luzes, não sei, acho que não iremos encontrar. Mas, caso eu esteja errado, é preciso ter força para resistir à vontade de entrar numa caverna continuar lutando, procurando, ESPERANDO. Eu sei o que é lutar, mas ainda não vi as estrelas em olhos. E sim, esse reino é divino, distante, e não há nobres ou plebeus: somos todos desesperados.

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  2. O importante é não entrar dentro da caverna e seguir sempre em frente, não precisa nem saber para onde seguir, apenas siga. O "para onde" se descobre logo a frente. E já sabe: se precisar de forças, pegue as minhas!

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