Um pedacinho da 1ª parte do meu livro. Tomara que gostem!!!
(...) Gaudêncio foi logo até a estação. Estava ansioso para rever a “princesinha” da fazenda. Ele foi logo cedo. O trem só chegava ao meio-dia, mas Gaudêncio não queria que nenhum possível contratempo atrapalhasse sua chegada à estação a ponto de fazer Beatriz esperar.
A chegada do trem na cidade foi pontual. Ao meio-dia ele estava apitando, avisando que estava próximo. Gaudêncio estava ali, a postos, esperando por uma mulher que ele viu ir embora ainda garotinha. Como se lembrar dela? Beatriz não voltou mais à fazenda. Seus pais iam visitá-la em Ouro Preto. E se ela não o reconhecesse? Gaudêncio precisava ficar muito atento a cada passageiro que descesse do trem.
Ao desembarcar, Beatriz procurou pelo pai e pela mãe, mas não viu ninguém. A moça ficou triste. Esperava uma grande recepção na sua chegada. Há tanto tempo não via seus pais. Estava com muitas saudades, naturalmente. De repente, aproximando-se dela, Gaudêncio disse:
- Bia?
- Eu mesma. – Disse com um sorriso radiante.
- Lembra de mim não? Sou o Gaudêncio.
- Gaudêncio! Nossa, você está mudado. Forte, bonito, com esse sorriso...
- Sô eu sim. Vosso pai me mandou aqui pra esperá por’ocê. Eu tava aqui há um tempão. Esse trem não chegava nunca.
- Que bom que você veio amigo! Estava morrendo de saudades de você, mas achei que só o veria na fazenda. Como você está bonito rapaz!
- Você tamém. Tá muito linda! Uma formosura.
- Ah obrigada... Bom, vamos então?
Foi lindo o reencontro de Beatriz e Gaudêncio que aconteceu ali, na estação de trem. Tanto tempo se passou. Eles ficaram tão longe, por tanto tempo... Mas aquele sentimento bonito não morreu com o tempo, talvez porque quanto um sentimento é verdadeiro, ele não morre jamais. As pessoas não entendiam o afeto que a moça dispensava ao escravo. Viam naquilo uma coisa tanto quanto diferente. Mas os dois não se importavam.
Eles ainda não sabiam, mas aquele era o despertar de um grande amor que já tinha se manifestado na infância, mas viria a crescer e se solidificar agora na juventude. É o que já estava escrito para eles, há muito tempo. O amor que os uniria agora não era mais aquele amor que se expressa nas amizades sinceras. Eles agora eram um homem e uma mulher, jovens ainda, mas formados, e prontos para viver.
Ao chegarem à fazenda, era notório ver como Beatriz estava feliz. Ela estava voltando para sua terra. Ali ela foi feliz, junto aos seus pais, correndo pelos pastos, comendo frutas colhidas na hora, bebendo o leite fresquinho, recém tirado da vaca. Aquela criança doce virou uma moça muito bonita. Certamente era o melhor partido da vila. Muitos rapazotes iriam começar a visitar o Coronel Antônio para tentar alguma aproximação com ela. Mas seu coração não estava olhando para essas coisas. Na verdade, ele já estava muito bem ocupado.
Dona Margarida era só felicidade. Era muito bom ter Beatriz de novo junto a si. Só Deus sabia o quanto essa mãe sentiu a falta de sua filha. Sua única filha. Mas naquele momento tudo era passado. Beatriz estava ali, na fazenda onde nascera. Vinha de um longo tempo de estudos que talvez fossem úteis para aquele povo. Pelo menos era o que tinha em sua mente, cheia dos idealismos próprios da juventude. (...)
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