Eu te avisei

Minhas mãos apoiavam-se no mármore frio da pia do banheiro. Olhava meu reflexo pálido no espelho, mas meu olhar era vago, ele não estava fixo no meu rosto, e sim, além dele.
Meus joelhos, fêmur e tornozelo doíam, demais. As cirurgias me deixaram forte, porém, fraca. E eu não conhecia ninguém que quisesse alguém assim. Até você aparecer.
Talvez você tenha enxergado mais do que eu enxergo no espelho. Talvez você tenha olhado para além das fraquezas. Mas ainda assim, era necessário te avisar sobre elas. Sobre cada uma delas.

Te contar que talvez, por minha culpa, alguns dos seus dias fossem virados do avesso. Que você fosse se tornar mais um companheiro de quarto de hospital do que um esposo. Eu estrago os contos de fada às vezes.
Parece que eu tento fazer isso, de juntar todos os meus defeitos e expor eles para você como um sinal de alerta. Isso acontece porque eu vejo uma perfeição tão grande em você que eu fico colocando empecilhos para te fazer "cair fora", como todos os outros fizeram sem eu precisar me esforçar.
Eu fico esperando que você me desiluda, me faça chorar, seja grosso e estúpido comigo. Eu espero sempre o pior. Até de ti. Eu sempre espero o sofrimento, porque ele foi a única coisa que esteve ao meu lado até aqui.
Quando eu olho pra você eu vejo a minha única esperança. Eu vejo a minha salvação. E eu não consigo entender como alguém como eu, pode ter sido agraciada dessa maneira.
Eu definitivamente não te mereço. Eu preciso de você, mas não mereço.

Andresa Alvez

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