Olá, pessoal! Chegamos a mais um “Livro em Cena”. Este mês, como eu já havia anunciado, o livro escolhido é um weblivro. Trata-se de “Lado B”, série literária do Enrique Coimbra, que está em sua segunda temporada. Vocês podem baixar o livro, gratuitamente, neste blog. Lá tem as duas temporadas. Eu tinha feito uma cena da primeira temporada das aventuras de Éron, num momento de papo dele com sua mãe. Agora, a conversa é com seu primo, Hugo. A relação deles é muito complicada, e só mesmo lendo para entender tudo.
Enrique Coimbra é um autor que me dá tanto prazer em ler quanto um grande desafio para fazer roteiros. Digo isso porque ele amarra suas cenas de um modo tal que é bem complicado encontrar um corte, e não passar de um ambiente a outro, o que atrapalharia uma eventual filmagem, pois teríamos que dividir a cena em várias tomadas. Como a minha intenção é procurar fazer uma única cena, o texto deste autor me desafia, e me instiga. Eu gosto muito disso, e espero que vocês gostem da cena que separei.
CENA: QUARTO DE ÉRON / INTERIOR / NOITE
Éron (gritando, só voz): NÃO SAIO! NÃO SAIO PORQUE ESSA CASA É MINHA TAMBÉM! SE ALGUÉM NÃO ESTÁ SATISFEITO AQUI É VOCÊ, QUE SEMPRE FOI UM PORCO IMBECIL QUE SÓ SERVE PRA ENCHER MEU RABO DE DINHEIRO! VOCÊ NUNCA FOI UM BOM PAI, NÃO FOI UM BOM MARIDO E EU TENHO NOJO DE CARREGAR POR AÍ SEU GENÓTIPO! ESPERO QUE VOMITE NO SEU PRATO!
Éron entra em seu quarto e bate a porta, com força.
Seu pai está gritando na sala (som abafado)
Éron vai até o computador, e coloca um Heavy Metal bem alto.
Éron se espalha em sua cama.
Enquanto a musica toca, ele fica pensativo.
Uma lágrima cai.
Éron se levanta, enxuga os olhos e, ao sair, vê um envelope debaixo da porta.
Éron pega o envelope, abre e começa a ler.
Éron lê o nome do laboratório e o de sua mãe: “Marta Brascher”.
Continua lendo e vê, no terceiro papel, o termo “Câncer de mama”.
Éron abre a porta com rapidez, e grita:
Éron: MÃE! MÃE!
Hugo o abraça por trás e tapa sua boca.
Hugo: Cala a boca, merda! Fui eu que peguei o papel, mas fique quieto.
Éron balança a cabeça afirmativamente.
Hugo: Eu vou te explicar tudo. Só não a chame, ok?
Hugo tira a mão da boca de Éron, e vai o soltando lentamente.
Éron fica com os olhos cheios de lágrima e estáticos, não acreditando.
Hugo puxa Éron rapidamente para dentro do quarto.
Eles precisam gritar, pois a música de Éron ainda está alta.
Hugo: Já olhou os resultados? Preciso devolver isso pra pasta dela.
Éron: Foi você? (bravo) Hugo, isso é maneira de me dizer uma coisa dessas?!
Hugo: Eu bati na porta, mas essa sua música não deixa a gente ouvir nada.
Éron abaixa o volume e muda para uma música menos violenta.
Éron: O que a gente vai fazer com isso, Hugo?
Hugo: Vou devolver. Me espere aqui. Não saia de maneira alguma, ok?!
Éron concorda.
Hugo sai do quarto para devolver o exame.
Rapidamente Hugo volta, com preocupação no rosto.
Éron: Câncer, não é?!
Hugo: É sim. Mas eu só pude olhar um dos papéis. Não sei o que ela anda fazendo em relação a isso. Não vi a data ou coisa do tipo também. Olhou tudo?
Éron: Olhei. Não entendi merda alguma. Nem vi data. Eu... Eu não sei o que fazer.
Éron senta na cama, triste.
Hugo: Éron, eu nem posso me arriscar a pegar os papéis de novo. Seu pai está trovejando até agora. Mas ela está contornando a situação. Não dá pra eu voltar lá agora.
Éron: Ele que se dane. Quem ele acha que é? (Éron leva as mãos ao rosto, tapando-o) É por isso que ele tá bebendo. Meu... Cara, é por isso!
Hugo: A gente não sabe ainda. Não adianta ficar de rinha com seu pai. Se alguma coisa acontecer a ela, você só terá...
Éron: Se alguma coisa acontecer a ela? Você acha que algo vai acontecer com ela? A gente tem toda a tecnologia do mundo. Todo tipo de tratamento. Um câncer não vai matar minha mãe.
Hugo: Eu não disse isso, primo. Mesmo com tratamento, talvez tenha de se internar, não é? E aí? Onde você vai ficar?
Éron: Você só acha que tenho a minha casa, Hugo? Que não tenho amigos?
Hugo: Tenho certeza. Você é todo introspectivo, chato e reclamão. Quem iria te aturar?
Éron se assusta com a seriedade e a certeza de Hugo.
Éron: Olha quem fala!
Hugo: Não, cara. Olhe pra você... Você não tem nada além daqueles dois. Sua mãe não está muito bem. Você só terá a ele.
Éron: Hugo, você...
Hugo: Você não tem a mim. Se alguma coisa acontecer com ambos, acredite, jamais te daria algum tipo de abrigo.
Éron para de chorar, limpa as lágrimas, e fica sério, como se nada o tivesse abalado.
Éron: Eu não ia dizer isso, Hugo. Ia dizer que você não entende. Acho que no fim quem não vai ter ninguém é você.
O rosto de Éron muda, e ele fica muito sério, mas com voz calma.
Hugo (Sarcástico): Não, eu tenho. Várias. Algumas delas me esperam em Paris. Tem alguém esperando por você, primo?
Hugo senta-se na cadeira do computador, e fica se mexendo , como se não se importasse.
Hugo: E tem mais! Eu realmente não consigo entender como você agüenta ser patético por tantas horas durante o dia. Não que eu te odeie, mas você consegue irritar as pessoas.
Hugo se levanta.
Hugo: Você falou com meu tio como se ele fosse um nada, como se tudo o que ele fez por você fosse nada! Que tipo de...
Éron: Então é disso que se trata, né? (sorriso de sarcasmo de Éron) Ser órfão deve ser doloroso, não é? Por isso você me mostrou o exame da maneira que mostrou, e é por isso que anda dizendo coisas cada vez mais imbecis pra mim. (Éron se joga na cama, sorrindo, com desprezo por Hugo) Cresceu sem pais, se achou vítima demais e passou a tratar as pessoas como merda pra se sentir melhor. E ninguém poderia falar nada, já que o coitadinho tem todo o direito de rebaixar as pessoas pra se sentir melhor!
Éron coloca seu tênis, e levanta da cama.
Olhando bem perto de Hugo:
Éron: O patético aqui é você, Hugo.
Éron dá uma piscada e um sorriso para Hugo.
Éron pega a carteira em cima da mesinha.
Éron: Arranje outro lugar para dormir, primo! Você não fica mais aqui. Não no meu quarto.
Éron sai, fechando calmamente a porta do quarto.
Hugo está estático, pálido, sem saber o que fazer.
Uma das minhas cenas preferidas! Ah, eu nem sei o que escrever AHUAHAUHAUHAUAH Mas sei lá, é quando Éron entende o que nem mesmo o Hugo sabia acerca de si. Acho que isso é importante pra série toda.
ResponderExcluirgosto muito do jeito do Enrique escrever, quando puder mando um roteiro de serie pra ele escrever,dai é só ir para a tv
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