Noiva Sal.

Ela estava linda, pura, casta, virgem em sentimentos. Eu nunca á conheci, mas era assim que os meus olhos á enxergavam. O sorriso bobo no rosto denunciava os sentimentos que, bem, posso imaginar quais eram. O noivo, não vi. Havia mais de um homem de terno preto, que acabou por me confundir entre fotógrafos, e talvez padrinhos. Por mais demasiado lento que o carro transitasse não o pude reconhecer. Quis enfiar a cabeça para fora da janela, e gritar o mais alto que pudesse á ela que fosse feliz. Não o fiz, pois não estava confortável devido às pessoas que comigo estavam, mas fechei os olhos por uns segundos, e desejei que fosse o mais feliz que pudesse, e, ser feliz naquele momento, seria fugir. Quem já se rendeu ao Amor de corpo e alma, carne ossos e tripas (...) sabe o que é ser tragicamente feliz.
Não te assuste caro leitor. Não estou me referindo á “fugir” de abandonar o casamento, o noivo, o compromisso, não. Não estou falando de fugir do mar, em suas depressões e calmarias. Estou falando de fugir de si. Diria –“Corra, noiva, fuja!”. Fuja da noiva, noiva.
Se a pudesse conhecer, diria para que fugisse. Fosse Amor, e Amasse sim. Mas não se deixasse cegar.
Ame com tudo o que tens, mas ama á ti um por cento a mais do que a todo o resto. Pego-me em risos, ridículo, ao ler o que estou escrevendo. Quem sou eu para dizer isto á alguém? Por Deus, quem sou eu para dizer isto á uma mulher recém casada? Ninguém. Absolutamente ninguém. E por não ser ninguém, digo.
Lhe diria que o amasse, e desse de si o melhor, para proporcioná-lo a felicidade que em promessas dedicou no altar. Mas que não naufragasse. Não engolisse toda a água daquela fonte, podendo então se afogar. Deixe os teus olhos, para fora, noiva. Te entrega de corpo e alma, mas arranca a cabeça do corpo, e segura debaixo do braço.
Queria eu vê-la no momento em que se preparava para registrar o momento em fotografias, correr desesperada ao mar, e entregar-se ás águas talvez gélidas que á metros dali estavam. Lavaria a alma. Cobriria seu corpo de sal. O sal necessário para fazer sua carne pura e casta durar mais, diante das mutilações involuntárias e auto-mutilações que o Amor e Paixão provocam. Sal para durar.
Não a pude conhecer. Nem sequer pude gritar “Seja Feliz”. É absolutamente improvável que estas palavras cheguem aos olhos dela. Ela não sabe da minha existência, e além do mais, quantas outras noivas casaram-se naquele mesmo dia?
Então, escrevo para que sinta.
Seja feliz, noiva. Mas, seja primeiro humana, mulher, e aí, noiva.
Não sejas mar. Dê á ele a sua água, toda a sua água se precisar. Mas não dê á ele, nem a ninguém a sua fonte. Esta precisa estar intacta dentro de você, sempre. Mergulha, noiva, mas deixa os olhos de fora.
E te cobre de sal. Assim, você humana, mulher e noiva duram mais. Noiva que ama o noivo, mas que se amou primeiro.
Seja feliz, e aí então, seja noiva.
Noiva Sal.

Cláudio Rizzih.

4 comentários:

  1. Ótimo texto! Excelente crítica à aquela velha ideia de que a mulher feliz é a casada. E que uma vez casada, a pobre deve passar a viver a sombra do marido, a favor de sua nova família.

    Parabéns! ;)

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  2. Duh Secco: Exatamente. Mas, para muitas delas, é quase impossível sair da "zona de conforto" para arriscar-se em um recomeço. Pena. Vale cruzar os dedos pelas futuras noivas. Espero que sejam elas Noivas Sal. Obrigado pelo comentário! Abração e Luz!

    Mayara Almeida: Obrigado pelos elogios e por prestigiar. Luz pra você!

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  3. Uau! Fiquei encantada com esse texto! MESMO!

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