Livro em cena: "Lado B - 1ª temporada"

Chegamos a mais um “Livro em cena”. Nesta edição, escolhi um chamado weblivro. Sim, amigos, este livro não é encontrado nas livrarias convencionais, mas está disponível para download no endereço abaixo:
Trata-se de uma aventura juvenil do criativo ator e escritor carioca Enrique Coimbra, que participa sempre do “Literatura Exposta” com seus perspicazes comentários, e é autor dos interessantíssimos “Ironias Sociais e Tais” e “Visto o que sou”. Escreve com extrema desenvoltura, e tem um texto muito atual, seja nos blogs, seja no livro. Uma leitura muito recomendável para quem gosta de um texto jovem e bastante dinâmico. Tem um humor bem refinado, e lança ironias que algumas pessoas nem procuram entender, e logo jogam pedras nas verdades que ele diz brincando.
E como foi difícil escolher uma cena neste livro. É que esta história é tão bem amarrada, que as cenas entrelaçam-se umas às outras de tal modo que fica complicado fazer um corte cênico. Vale a pena baixar este livro e ler toda a história. Bom, essa é uma cena bastante intimista. Um diálogo muito bacana de um garoto com sua mãe. Não deve ser a mais importante do livro, na minha opinião. Éron é um garoto de quinze anos que está descobrindo as coisas da vida. E isso, bem sabemos, traz angústias a todos. Escolhi uma cena que é bem simples e singela, mas que certamente toca o coração de todos, pois, afinal, quem nunca teve uma mãe pra contar suas descobertas da vida. Éron é só um jovem adolescente, que precisa desse solo firme da mãe pra poder viver suas aventuras. Uma leitura muito bacana.

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CENA: CASA DE ÉRON / SALA DE JANTAR/ MANHÃ



Éron chega para tomar o café da manhã, com aparencia de uma noite mal dormida.
Está tenso, preocupado.
Sua mãe o observa, enquanto termina de por a mesa.

Mãe: Você parece triste...
Éron: Problemas, mãe!
Mãe (tom de brincadeira): Quais problemas que um garoto de quinze anos e que nem ao menos tem filhos poderia ter?
Éron (irônico): Problemas que uma mulher de quarenta e dois anos não entenderia.

Os dois se olham.
Éron está com um olhar muito serio para sua mãe.
Ela sorri, amavelmente.
Então os dois ficam às gargalhadas.

Mãe: Agora essa conversa de revolta adolescente?
Éron(animado, olhando os pães): Quem está revoltado é meu estômago.
Mãe: Pode falar enquanto ele digere o pão.
Éron (tom de brincadeira): Será?
Mãe: Por que não?

Éron come um pedaço de pão e toma um gole do suco.

Éron: Ok! Mas tem uma regra essencial.
Mãe: E qual seria?
Éron: Tudo o que eu disser jamais poderá ser repetido.
Mãe: Não será!

Éron come mais um pedaço do pão e toma mais um gole do suco.
Sua mãe o observa com ternura, enquanto toma o café.
Éron suspira, para ganhar forças para falar.

Éron: Tipo, eu tenho uma... Não ria!

Éron vê que sua mãe está sorrindo, contente com a conversa e com sua revelação.
Ele abaixa a cabeça e continua.

Éron: Tenho uma namorada e assim...

Éron para por um lapso de tempo, olha pra sua mãe e a vê com um sorriso nos lábios.

Éron: O que eu falei sobre não rir?
Mãe: É que você está crescendo... Quem diria, você largando o videogame e arranjando namoradas...
Éron: Mãe, vai, esquece. Não dá pra falar disso com...
Mãe: Fala! Você já disse o mais importante mesmo.

Éron abaixa a cabeça, balança, e continua, sem olhar para sua mãe.

Éron: Então, eu tenho uma namorada e meio que a gente não tem conversado direito durante essa semana... Eu sinto que ela tá me evitando por causa dos meus novos amigos. Talvez ela não goste deles...
Mãe: Hum...
Éron: Só que eu não sei se deveria ligar pra ela. Sei lá, pra não parecer que sou um daqueles possessivos, loucos, ciumentos.

Ela lança novamente seu olhar de ternura para Éron.

Mãe: Quer minha opinião?
Éron: Você pode tentar!

A mãe toma um gole de café antes de começar a falar.

Mãe: Acho que deveria ligar. Ela é sua namorada. Você tem esse direito.
Éron: E se ela me achar um porre?
Mãe: Então ela não serve para ser sua namorada.

Éron pensa um pouco, enquanto come uns biscoitos.

Éron: É... Até que você falou algo de útil!
Mãe: É pra isso que servem as mães.
Éron: Ah... E existe uma regra extra super especial que eu não te contei.
Mãe: Conte agora!
Éron: Você deve esquecer tudo que lhe falei. A mensagem se autodestruirá.

Ela ri com sarcasmo.

Mãe: Sem chance!
Éron: É... Eu sabia... Mães são todas iguais mesmo.

Éron pisca para sua mãe, levanta e sai correndo em direção ao seu quarto.

8 comentários:

  1. Gostei da cena, bem singela e retrata um fato que acontece com muitos jovens que estão começando a descobrir e a viver experiências novas, daí surge a insegurança, o medo, coisas do tipo.

    Já li alguns textos do Enrique e gosto da forma como ele expõe os seus pensamentos, nada a mais do que a verdade...

    Parabéns, Bjs

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  2. Assim, quando eu escrevi a cena, eu imaginei-a de um modo muito dinâmico pra algo na TV, com respostas rápidas e coisas do tipo. E com menos exclamações. O que eu gostei foi do fato de você ter escolhido essa cena. É uma das minhas preferidas.

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  3. Essa e a cena da varanda são minhas preferidas. O problema é que eu não consigo imaginar ninguém além do Enrique e a mãe dele NESSA cena. Consegue entender?
    OEOIEOEOIEOIEO

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  4. Achei super interessante essa cena escolhida,pois relat a realidade de um adolescente,suas dúvidas,inseguranças,medos,vergonhas e outras coisas mais.Cena c uso de palavras simples e de fácil entendimento....Adoreiiiii!!!!!

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  5. Há um bom tempo eu to pra baixar o livro do Enrique, mas por enquanto nem dá. Acabei de terminar um livro e agora to lotado de coisas pra ler. Mas um dia eu leio, fato.

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  6. Leonardo, ficou muito legal!! adorei a virada, ele começa a cena de um jeito e termina diferente, é assim mesmo! Parabéns

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  7. Leonardo, ficou muito legal!! adorei a virada, ele começa a cena de um jeito e termina diferente, é assim mesmo! Parabéns

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