As belezas pela internet: "A jornada do escritor"

Pessoal, é com muita alegria que apresento o texto de abertura do mês de Abril. Trata-se de um texto de Lúcia Zaidan, do blog “Roteiro Sem Rumo”. Este é um blog que recomendo demais, porque tem coisas primorosas, escritas com o coração na ponta dos dedos. Ela escreveu com base no livro homônimo de Christopher Vogler algo no minimo interessante para quem está interessado em se enveredar pelo mundo dos roteiros, da criação ficcional. Pra quem tá começando, isso é uma joia, pois ajuda a preencher o vazio de conhecimento. Pra quem ja faz isso há um tempo, é bom pra se atualizar, mesmo quem ja conhece o livro do Vogler.
Enfim... Uma boa leitura, com minha modesta recomendação.

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A Jornada do Herói
Por Lucia Zaidan

Hoje de manhã eu estava filosofando sobre os comportamentos humanos e percebi que cai na velha armadilha da padronização. Nós, humaninhos, queremos entender o que aconteceu, o que está acontecendo e a informação mais valiosa de todas; o que vai acontecer. Por isso passamos a vida tentando achar padrões, ficamos mais tranquilos com isso e viramos ratinhos de laboratório na lei comportamental básica. Se aperto o botão vermelho e dá choque e o verde me dá comida repetidas vezes, na minha cabeça se forma um padrão de que vermelho é ruim e verde é bom. Agora estenda isso para ações e reações da sua vida, simples mas complexo. Os filmes nada mais são do que a representação de um padrão para as nossas próprias vidas. Por isso decidi aqui colocar a jornada do herói que vem do livro “A jornada do escritor” de Christopher Vogler.
Para escrever um filme o seu personagem principal deve passar por estágios e mudanças. Ele faz um guia do que pode ser um padrão para o seu filme dar certo (ele mesmo diz que é só um guia, um de muitos caminhos a serem seguidos, cuidado com o gesso).
Primeiro o seu herói está no mundo comum dele. Por exemplo, um cara em casa, acorda, sua noiva faz tudo, ele mal fala, nem ouve o que ela diz, dá um beijo sem graça e vai para o trabalho.. coisas aparentemente banais, mas que darão força ao próximo passo que é o chamado a aventura. É aquela frase. “tudo estava bem até que….” o cara está no trabalho até que uma nova chefe entra em seu departamento e ela é simplesmente maravilhosa.
Então há a recusa do chamado (nesse caso o chamado é ficar com a chefa bonitona) ele recusa pois sabe que não pode ter relações pessoas no trabalho e está noivo, prestes a casar com a mulher que namora há 10 anos, ele é totalmente machista e ela submissa e vão casar para ela ficar em casa esperando o marido, presa na vida dele.
Assim nosso querido amigo vai para um bar pensar na vida, o que deve fazer em relação a mulher que o abalou totalmente, acontece o encontro com o mentor. Alguém que lhe diz o que deve fazer. Pode ser um amigo, o pai, alguém que fala para ele aproveitar enquanto há tempo, que essa vida é só uma, essas coisas.
É neste momento de aceitação do desafio que acontece a travessia do primeiro Limiar, é ai normalmente que o filme realmente começa. Ele vai investir na chefona e a acabar com a noivinha, começa então uma nova fase com testes aliados e inimigos. Ele vai ter que sair com a turma da nova chefe, e impressioná-la, esses podem ser bons testes, vai ter gente o ajudando a passar nesses testes e inimigos como a ex-noivinha revoltada.
Acontece então a aproximação da caverna oculta ( o nome é sugestivos para mentes sujas, e em um filme romântico não podemos deixar de descartar esse pensamento rs) é a hora que ele vai sair com a chefona bonitona que está apaixonado.
Vem então a provação, ele não pode só sair com ela, tem que fazer valer, e para dar mais força é ai que saberemos se o herói quer mesmo largar tudo para ficar com ela, então pode aparecer o chefe geral do escritório, e até a noivinha revoltada. Se ele ficar com ela saberemos que está comprovando que vai trocar seu casamento e seu emprego pelo amor verdadeiro.
Depois que ele fica com a mulher que ama e desiste do seu emprego e casamento ele tem uma recompensa. Que pode ser a recíproca do amor verdadeiro.
Mesmo assim vamos agora para o caminho de volta (para o mundo comum), em que ele ainda é assombrado agora ainda mais pela ex e pelo fato de estar desempregado, é nessa hora que dá um jeito de dar um basta nessa noivinha chata e ainda luta por uma boa vaga de emprego a conquista.
Depois que tudo isso acontece ainda temos a ressurreição, onde de novo o amor verdadeiro é posto a prova para ele. Ela começa a trabalhar muito, ganha mais do que ele e isso interfere na relação, eles tem que entrar em um acordo. Chegam a brigar, quase se separar e ai percebemos que o herói realmente mudou, que ele entende o lado dela e sabe que não é humilhação ganhar menos do que a mulher por que está fazendo o que gosta e o mais importante, está com a mulher que ama.
A última etapa da jornada é o retorno com o elixir, onde o herói retorna ao mundo comum mas com uma clara diferença do seu mundo comum que apareceu no começo do filme, ele aprendeu uma lição no mundo especial. Ele se casa com a bonitona e ele em seu cotidiano ajuda em casa, faz o que for preciso para manter um lar feliz
Ou seja esses doze passos podem aparecer no seu filme em outra ordem algum deles pode ser retirado, e se fosse só preencher esses passos para ter um bom filmem qualquer um ganharia o Oscar, todos sabemos que um filme é bem mais complexo que isso. Mesmo assim se você é relutante a fórmulas não se esqueça que primeiro devemos aprender a pintar uma paisagem perfeita (por mais sem graça que isso possa parecer hoje em dia é bem difícil de aprender a pintar essa paisagem) para depois poder desconstruí-la e enche-la de rabiscos e criar uma nova forma de arte, não dá pra não saber pintar o perfeito e já ir direto para o rabisco.

4 comentários:

  1. kkk...

    Como sempre um belo post!
    Culminando com a frase: "[...]não dá pra não saber pintar o perfeito e já ir direto para o rabisco."

    Constatação inteligente, mas, nem sempre, fácil de chegar.

    É interessante como, ao ler o texto, realmente passa um filme em nossas cabeças e damos início a uma comparação inevitável de uma obra com outra a fim de procurar os passos colocados.

    O pior é que sempre observamos a padronização destes!

    Abraço.

    E visite também o gustavomdias.blogspot.com

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  2. Interessante este post. Dá para imaginar as etapas que foram propostas.

    Montar um roteiro não deve ser fácil, não é para qualquer um. E este ficou bacana para ser lido.

    Parabéns!!! Bjs

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  3. "Depois que ele fica com a mulher que ama e desiste do seu emprego e casamento ele tem uma recompensa. Que pode ser a recíproca do amor verdadeiro."

    ACHEI PERFEITO O "QUE PODE SER"! Encaixou super!

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  4. Leo, qnt tempo!

    Hoje retorno ao "literatura exposta" para acompanha a sua evolução!

    Desde já, parabenizo-o pelo seu
    empenho e qualidade dos textos!

    Bem, segundamente (hehehe), informo que agora consegui organizar a minha rotina pra voltar a escrever e a publicar no meu http://quehistoriaessa.wordpress.com

    Por fim, porém, não menos importante, gostari de te indicar alguns livros que talvez voce já conheça mas que me ajudaram a penetrar mais de cabeça nesse universo literário, são eles:

    "Roteiro de cinema e televisão"
    http://www.roteirodecinema.com.br/livros/roteirodecinemaetelevisao.htm

    "Oficinas de escritores"
    http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?sid=0188195721243591818469325&nitem=11019118

    Fico por aqui, desejando um futuro próspero,

    Leo Pinheiro.

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