Reflexo inevitável

Plic... Plic... Plic...
Um após o outro, orquestrados,
Os pingos me invadiram o ouvido
E a terra molhada entrou-me pelo nariz.
Começou de uma vez e logo
Escorreu pela cidade o pranto
Do céu que, enfurecido,
Assistiu por muito tempo nossa guerra.


Chuva com gosto de maldade.
Trouxe consigo a amargura dos homens
Que contemplo agora, pela janela,
Enquanto a água cai lá fora.
Quão perfeita é a reprodução.
Como um filme em uma grande tela
Desfilam, refletidas, acima de nós,
Todas as nossas desavenças.

Cabrum!
Ecoou por entre nuvens espessas
A reclamação de quem não suporta mais:
"A cada dia vocês se superam
Na arte de fazer o mal a si mesmos,
Enquanto me torturam amarrado".
Não bastaram quatro ou cinco trovões.
A mensagem precisava ser dada.

Após uma noite inteira de tempestade,
Majestoso o céu estava quando,
Pela manhã, o contemplei sereno.
Vazio de tormentas e amarguras
Fitava a Terra como quem sente pena.
Entendi naquele momento seu excesso.
Havia transbordado de angústias
Por não poder fazer algo além
De simplesmente lamentar.

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