Te lembrar

Hoje eu lembrei dos teus cabelos dourados.
De como era bom saber que a cada manhã, uma das primeiras coisas que eu veria seria o seu sorriso.
Como aquela inocência me fazia feliz, como me render àquela doce ilusão era bem mais fácil do que dar a cara as verdades que a tua vida deixou.
Lembrei de quando você deitava perto do meu rosto para me ouvir cantar. Lembrei de você sempre com cuidado subindo as escadas ao meu lado e segurando minha mochila.
Lembrei perfeitamente daquela tarde quente de terça feira, quando o sol já estava mais baixo e os corredores do fundo ficaram escuros teus braços me cercaram devagar.
Ainda parece mentira se alguém ouvir isso...Lembrei de todas as cartas, bilhetes. Lembrei de cada ligação e de como você se preocupava mesmo que eu estivesse bem longe de ti. Lembrei do teu perfume, da textura da tua pele, de como você mordia os lábios enquanto escrevia.
Lembrei do último abraço. Você lembra?
Teus olhos se encheram de lágrimas, e com a voz falhando te ouvi dizer:
- Talvez essa seja a última vez que vamos nos ver né? -
Porque eu fui tão relutante? Porque eu não afirmei que te Amava, e que mesmo com todos os estragos eu sempre carregaria tudo que nós dois vivemos juntos? Porque eu não disse que em toda noite de domingo eu iria pensar em te ligar?
A única coisa que eu fiz foi sorrir de leve, como se nada daquilo tivesse me machucado. Como se tudo que eu havia vivido nos últimos três anos não fizesse nenhuma diferença para mim.
Mas quando você decidiu me abraçar, eu me permiti te abraçar de verdade.
Ainda consigo lembrar dos seus braços finos em volta das minhas costas, de como a sensação de você me apertando devagar era tão sadomasoquista.
- Preciso ir embora, mesmo! - Disse apertando os lábios, querendo ficar mas ao mesmo tempo querendo sumir.
- Tudo bem... - Você tentou dizer algo.
Eu sei que você iria dizer que me Amava. Eu sei que eu iria dizer que sempre iria te Amar. Nenhum dos dois fez alguma coisa.
Você me deixou escapar de ti a passos curtos. Você me deixou ir depois de tantos dias, de tantas manhãs, de tantas promessas. Você me fez ir.
Eu não queria, não queria de verdade.
Eu queria ter te feito feliz, eu queria estar do seu lado em cada passeio, me preocupar em cada final de festa. Eu queria te beijar no banco de trás do carro, queria fazer minha família te aceitar mesmo que você tivesse perdido todo o valor.
Eu iria tentar. Mas você não quis. Você permitiu que naquela manhã de dezembro eu desaparecesse devagar.
Em algumas manhãs eu ainda lembro dos teus olhos inchados de sono, em algumas tardes eu ainda lembro da tua camisa com cheiro de cigarro, em algumas noites eu ainda penso em te ligar.
Eu ainda penso em voltar, esquecer.
Eu ainda penso em nós dois, na nossa felicidade tão breve, tão rápida.
Falta, medo, vontade, desejo, Amor. Eu ainda sinto.
 
Andresa Alvez

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