Claudio Rizzih é um desses artistas multitarefas da nova
geração: é cantor, ator, compositor, escritor e dançarino. Com apenas 21 anos,
Claudio está em uma ótima fase de sua vida. Nasceu em Jaraguá do Sul/SC, e
cresceu em Itajaí/SC, em uma família de musicistas, que se divide entre
cantores, instrumentistas e compositores, de onde veio seu primeiro contato com
a música. Seu envolvimento direto com a arte começou aos sete anos em 1999, e
mais tarde em 2003 começava sua carreira artística com a música e o teatro. Com
um currículo vasto, quase cem canções escritas, trabalhos marcantes nos palcos
e o recente lançamento do projeto "Verde Bambuzal", Claudio prepara
seu novo projeto, o EP "CANTA!", que está em processo de
concepção.
Por Patrícia Távora
Literatura Exposta - Vamos começar falando de música.
E aqui não há como fugir dos clichês. Você é um cantor autoral, Claudio. Qual
sua inspiração para compor suas músicas e quais suas referências?
Claudio Rizzih: Todas as minhas composições são relatos, registros.
Minha música é minha história cantada, até então. Digo ‘até então’ por
reconhecer que tudo é fase, ciclo. Durante anos compus sobre Amor, Saudade,
Paixão, porque era o que eu estava vivendo. Percebo-me agora saboreando outras
sensações, sonoridades, outra linguagem. Venho compondo sobre mim nos últimos
tempos por passar por um momento de autoafirmação e entendimento pessoal como
artista, como homem. Amplamente eu diria que não busco algo certo para me inspirar.
Outro dia compus sobre um caju e curti o resultado. Meus maiores mestres
inspiradores são os deuses Caetano Veloso (que eu aponto como minha maior
referência), Djavan, Bebe (uma cantora e compositora espanhola que me
influencia profunda e diretamente), Marisa Monte e Danni Carlos. Sou um
compositor autobiográfico, o que me liga diretamente aos artistas que citei.
L.E - Você tem uma “favorita” dentre suas músicas?
Rizzih:
(Risos) Tenho. É “Prelúdio Sobre Gênesis”.
L.E - Por que essa canção?
Rizzih: São
inúmeros os motivos, mas, sobretudo por ser algo sensorial e transcendente o
que a sonoridade da melodia e da poesia me provoca. Essa canção é uma espécie
de extensão do meu corpo. Concebi num momento de êxtase, ofegante. Veio inteira
como está, nada alterei. O momento em que eu escrevia as palavras, despido
deitado na cerâmica gélida do chão, nada tem a ver com este mundo terreno. Foi
cósmico. “Prelúdio” pra mim é um hino, um marco muito pessoal na minha
história. Sinto vontade de chorar no vocalize inicial e certamente me
transporto para outro lugar quando defendo esta canção. Talvez daqui á algum
tempo não seja mais minha favorita (duvido), mas a importância que ela tem pra
mim é imutável.
L.E - E como você lida com a música e suas outras
artes?
Rizzih: Como
prioridade. Não consigo me desligar, estou o tempo todo criando e se não me
freio, isso me consome. Confesso que, às vezes, me aborrece. Quando digo a mim
mesmo: “Hoje vou sair com os amigos, beber e gastar um papo besteirol”, me dou
conta da minha presença ausente assim que percebo que não prestei atenção em
nada do que foi conversado por estar com a cabeça num verso que surgiu do nada
ou em coisas do tipo: “Naquela estrofe eu poderia abrir voz” ou “A figura de
tal pessoa ficaria incrível no videoclipe da música nova”.
L.E - Falando em teatro, e na linha do musical que
você participa no Beto Carrero World, como foi entrar para o elenco, e como foi
essa construção da Madame Margot?
Rizzih: Entrar
para o elenco do “O Sonho do Cowboy” foi maravilhoso. Estou vivendo uma
experiência única e transformadora. A transição foi complicada. Eu estava
trabalhando em quatro projetos em andamento em Florianópolis. Quando soube da
minha aprovação, tive cinco dias para me decidir. Intuitivamente (e com um
tremendo aperto no peito), joguei tudo pro alto e aqui estou. Fiz a escolha
certa. Dei um duro danado para construir a Madame Margot que já estava pronta
quando cheguei. O primeiro elenco teve oito meses de intensos ensaios, enquanto
eu tive apenas trinta dias para me preparar. Foi no palco que eu descobri a
minha Madame, e só depois de alguns meses é que eu me encontrei. Hoje sou muito
satisfeito com os meus resultados, mas continuamos todos em constante processo
de recriar e redescobrir essências. As referências externas que mais
contribuíram para a construção psíquica, comportamental e visual da minha
Madame vem de grandes artistas. Eu citaria o filme “Madame Satã” (crucial na
minha construção do psique), a apresentadora RuPaul na performance e sutilezas
das drags Raja Gemini e Sharon Needles no visual.
L.E - Como é a relação com os colegas de elenco no
musical?
Rizzih: Maravilhosa.
Somos uma grande família, de verdade. É uma troca constante. Além de dividirmos
experiência e conhecimento que cada um traz consigo, somos o ombro um do outro,
o ouvido, o abraço, o companheirismo, irmandade. Acho isso incrível! Somos mais
de 30 pessoas completamente diferentes, artistas completamente diferentes, mas
convivemos de maneira muito alto astral, divertida, e harmoniosa. Em baixa
temporada, é claro. (Muitos risos).
L.E - E como é a relação com os fãs?
Rizzih: Igualmente
maravilhosa. Poxa vida. Nem sei o que dizer sobre eles. São muito carinhosos,
atenciosos e, sobretudo, muito respeitadores. Gostam de estar presente,
prestigiar, aplaudir. Dedicam um carinho tão honesto que me emociona de verdade
(principalmente em relação ao meu trabalho autoral). Frequentemente se
mobilizam nas redes sociais para espalhar minhas músicas. Poxa vida, isso é
muito grande! Outra coisa inusitada, mas muito legal, é que tenho muitos fãs
crianças. Eles são espontâneos e verdadeiros! Mandam cartinhas com desenhos e
pedem pros pais me escrevem mensagens. Uma fofura. Todos eles são pessoas
sensíveis, doces e iluminadas. Há uns dias atrás eles criaram o meu primeiro fã
clube, o “Rizzih-se”. Diga lá... Eu posso com isso? (Risos). Sou apaixonado por
eles.
L.E - Fala um pouco de você. Como é ser Claudio Rizzih?
Rizzih: Em
uma determinada fase da minha vida, tive dificuldades pra aceitar minha
personalidade. Sou muito intenso, e isso aponta simultaneamente minha maior
qualidade e meu pior defeito. Muita gente acha que por eu me mostrar tão livre,
tão seguro de mim (coisas que são verdade), a opinião alheia não me afeta.
Afeta sim, o que não quer dizer em momento algum que eu vá deixar de fazer algo
pelas possíveis críticas, claro. Tenho inúmeros defeitos. Sou impulsivo,
extremamente autocrítico, ansioso, teimoso, vulnerável e por ai segue uma lista
em tamanho bíblico. Mas eu sou de verdade. Sou tão feliz por gostar da minha
porra loucagem, que relevo meus defeitos. Confesso: Eu precisei aprender a
gostar de mim.
Rizzih: Muito.
Escrever me mostra quem eu sou sem a intenção de fazê-lo.
L.E - Poesia, conto, crônica ou romance? Qual sua
área preferida?
Rizzih: Poesia,
sem dúvidas.
L.E - Tem alguma inspiração em outros autores quando
você escreve?
Rizzih: Tenho
sim. Meu poeta favorito, o cara que eu considero o mais genial dos poetas com
sua poesia crua, nua, simples, é o Bento Nascimento, que nos dias de hoje
escreve de um lugar muito melhor que este terreno. Quando releio suas duas
únicas obras (sempre), sinto que estou me lendo, como se falasse de mim.
“Gula”, um dos seus poemas, me define muito melhor do que minha certidão de
nascimento. A linguagem dele também me influencia diretamente. Depois do Bento
vem com certeza Elisa Lucinda, que me inspira em demasia. Não posso deixar de
citar a influencia do Manoel (o de Barros) e um pouco de Cora Coralina também.
Não busco escrever como ninguém. Influencias á parte, quando somos só o papel a
caneta e eu, não sigo referência, estilo ou regra. Apenas vomito.
L.E - Para fechar, como foi participar do Literatura
Exposta?
Rizzih: Um
gosto! Já tive o prazer de escrever poemas para este lindo espaço virtual.
Aliás, por conta de participações no Literatura, muita gente conheceu meu
trabalho. Passam por aqui grandes artistas, grandes amigos. Me senti abraçado
nesta entrevista. “O bom filho à casa torna”. Toda a sorte de êxitos eu desejo a vocês. Continuem este trabalho lindo de manter a literatura presente na
internet. O meu abraço fraterno. Amemos!
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