Bom, amigos, nós chegamos ao segundo livro da nossa seção “Livro em cena”. Com grandes clássicos da literatura, fica realmente difícil chegar a uma decisão. Pensando muito, resolvi compartilhar com vocês uma cena deste que é um dos meus livros preferidos. Trata-se de “A Jangada – 800 léguas pelo Amazonas”, de Júlio Verne. Quem lê este livro sem conhecer a biografia de seu autor pode jurar que Verne esteve na região amazônica para ambientar sua aventura. Mas este escritor francês nunca esteve nas terras da América do Sul. Este livro é fascinante, e vale a pena constar da biblioteca e das mentes de vocês.
A cena que vocês estarão lendo logo abaixo é uma das minhas preferidas. Vale fazer constar aqui que esta é uma história que se passa no ano de 1852. A jangada que dá título ao livro é quase que uma cidade de tão grande. Muitas aventuras se passam com a família de Joam Garral e de sua esposa Yaquinta, com seus filhos Minha e Benito, que leva consigo na viagem o amigo Manoel. Também estão na grande jangada o barbeiro Fragoso, a velha Cibele e o enigmático Torres, que embarca depois, na aventura. Para quem for procurar para ler esta história, garanto que será um bom divertimento.
Explicação da cena: A jangada está sendo atacada por crocodilos, que o pessoal chama lá de “caimões”. Todos precisarão de força e coragem para tentar vencer os terríveis inimigos.
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CENA – JANGADA / EXTERNA / INICIO DE NOITE
Mostra-se um ambiente de início de noite.
Na frente da casa estão Joam Garral, Yaquinta, Lina e a velha Cibele. Todos admiram o entardecer no rio Solimões à medida que a jangada vai passando.
Torres está perto deles, inquieto, como se quisesse falar algo com Joam.
Mostra-se escravos e índios às margens da jangada, com os pés no rio.
Mostra Araújo sentado na frente da jangada, observando o curso da correnteza do rio.
Mostra-se Benito e Manoel no meio da jangada, conversando e fumando, mas não dá para saber do que falam. Eles estão observando disfarçadamente Torres.
Manoel segura Benito pelo braço e diz:
Manoel (intrigado) – Que odor diferente! Será que estou enganado? Não está sentindo?... Parece mesmo...
Benito (Começando a se preocupar) – Parece Carne em decomposição! Deve ter caimões na margem vizinha.
Manoel – Bom, né! a natureza agiu sabiamente ao permitir que eles se traíssem desse modo!
Benito – Sim! Isso é uma sorte, porquê são animais que devemos temer.
Ouve-se gritos vindos de onde estão os índios e escravos.
Índios e escravos (gritos desesperados) – Caimões! Caimões!
Alguns índios e escravos são arrastados para dentro do rio.
Manoel e Benito olham para onde estão os índios e os escravos. Aparecem três crocodilos enormes, subindo na plataforma da jangada.
Benito grita, fazendo sinais para os escravos e índios:
Benito – Aos Fuzis! Aos fuzis!
Manoel – (com Benito) Não, Para casa! É mais rápido... (gritando) Abriguem-se!
Todos correm para a casa.
Os índios e escravos correm para o abrigo deles.
Mostra-se o desespero de todos e os três crocodilos invadindo a jangada, batendo com o rabo nas coisas, e pegando o que vêem pela frente.
[corta para:]
CASA PRINCIPAL DA JANGADA / INTERNO / NOITE
Joam está fechando a porta depois que Benito e Manoel passam.
Manoel olha e não vê Minha. Fica preocupado.
Manoel (preocupado) – E Minha?
Lina (saindo do quarto dos patrões, iniciando desespero) – Não está aqui!
Yaquita (desesperada) – Meu Deus, onde ela está?
Todos gritam, procurando Minha.
Todos – Minha! Minha!
Não há resposta.
Benito – Será que ela está na frente da jangada?
Manoel (grita da janela) – Minha!
Joam pega fuzis que estão na casa.
Benito, Manoel e Fragoso pegam as armas e saem, junto a Joam para tentar salvar Minha.
[corta para:]
JANGADA / EXTERNO / NOITE
Benito, Manoel, Fragoso e Joam estão saindo da casa, e dois crocodilos se viram e vem na direção deles.
Benito atira e acerta na cabeça do crocodilo, entre os olhos dele.
O Crocodilo começa a ter convulsões e morre.
Joam tenta correr e o outro crocodilo começa a segui-lo.
O crocodilo derruba Joam com o rabo, e vai para cima de Joam com a boca aberta.
Torres sai da casa com um machado nas mãos.
Torres acerta um golpe na boca do crocodilo, quebrando o maxilar dele.
O crocodilo sangra muito, corre para o rio e desaparece nas águas escuras pela noite.
Manoel corre para a frente da jangada, gritando:
Manoel (desesperado) – Minha! Minha!
Manoel vê a cabana de Araújo toda combalida, e Minha fugindo do terceiro crocodilo.
Minha cai.
Benito atira, ma a bala bate na couraça do crocodilo e algumas escamas voam, mas a bala não penetra no animal.
Manoel se joga na direção de Minha, tentando protegê-la.
O crocodilo dá um golpe com o rabo e derruba Manoel.
Minha está desmaiada.
O crocodilo se aproxima dela, pronto para pegá-la com a boca.
Fragoso pula sobre o crocodilo, e enfia-lhe um punhal na garganta, com risco de ter o braço decepado pelos dentes do animal.
Fragoso consegue tirar o braço, mas sua roupa fica presa nos dentes do crocodilo, que corre para o rio, arrastando Fragoso.
Lina, chegando à margem da jangada, grita:
Lina (ajoelhada) – Fragoso! Fragoso!
Mostra-se a tensão dos ocupantes da jangada.
Depois de um curto tempo, Fragoso reaparece no rio, vivo.
Todos correm para socorrê-lo, felizes.
Todos comemoram a vitória.
Joam Garral olha para Torres, para lhe agradecer.
Torres sorri e se mexe afirmativamente a cabeça.
Manoel vê. Mostra a Benito.
Benito – É verdade... Você tem razão, e nesse sentido, é uma preocupação a menos! No entanto, Manoel, minhas suspeitas permanecem! É possível ser o pior inimigo de um homem sem querer a morte dele.
Joam estende a mão e diz:
Joam Garral – Obrigado, Torres!
Torres se esquiva, dando uns passos para trás, olha sem medo de Joam.
Joam – Torres, lamento que esteja chegando ao fim de sua viagem e que devamos nos separar em alguns dias! Eu lhe devo...
Torres – Joam Garral, não me deve nada! Sua vida me é a mais preciosa de todas. E se me permitir... Eu pensei bem... Em vez de parar em Manaus, descerei em Belém. Pode me levar até lá?
Joam respondeu com a cabeça que sim.
Benito tentou intervir. Manoel o impediu.
Contrariado, Benito se contem.
Quero bis!!!
ResponderExcluirFicou ótimo!!!
Consegui imaginar cada passo da história, principalmente a parte em que a Minha é atacada pelo crocodilo, que aflição que senti por ela, rsrsrs
Parabéns!!!
Bjs
A-DO-REI! Eu achei MUITA mentira um crocodilo 'perseguir' alguém, mas você conseguiu formar um filme na minha cabeça, com essa cena! Espetacular, Léo! Muito legal MESMO.
ResponderExcluirNossa, quem não conhece o autor ficar realmente pensando que ele é alguém que fez uma bela estadia pela Amazônia. Me fez lembrar bastante de "cobra norato" do Raul Bopp e um pouco da série "O mundo perdido". Excelente.
ResponderExcluirCaríssimo amigo,
ResponderExcluirÉ uma bela iniciativa, não só escrever textos próprios, bem como, publicar trechos daqueles que você gosta. Sem sobra de dúvidas, compartilhar literatura e disseminar cultura é um dos maiores presentes que podemos oferecer e, através da internet, isso ficou ainda mais fácil.
Adoro leituras das mais diversas e apreciei bastante o trecho exposto. Quase fui buscar uma pipoca ali. kkkk...
Parabéns, continue assim e eu voltarei para acompanhar os próximos posts!
Abraço
Gostei!!^^
ResponderExcluirA história é acelerada, neh? Hauhauha
Beeijos!!