A arte da vida (ou a vida da arte)

Sempre tive comigo que escrever era algo muito bom, mas muito difícil. Que inteligentes são aquelas pessoas que se dedicam a contar histórias para encantar nossa realidade dura e complexa, eu dizia. Têm o dom de nos fazer voar para um mundo diferente, que até tem as falas que eles escreveram, mas que é construído pela nossa mente. Basta deixá-la viajar, enquanto absorvemos frase após frase que estes autores escreveram, e deixaram para nós. O fato é que não existe nada melhor no mundo que uma boa leitura. Claro, existem outras coisas tão boas quanto, mas não melhores. Diferentes, apenas, eu diria.
Somos capazes de passear por mundos incríveis, navegar por bravios mares, e caminhar nas areias do deserto também. Fazemos o que quisermos em nossas mentes, a partir do que alguém escreveu, como ávidos leitores. Dificilmente a cabeça de um leitor imaginará uma cena exatamente como o autor a pensou quando colocava tudo no papel. O bom é mesmo poder montar nossa própria visão daquilo que estamos lendo, com as vozes que achamos mais apropriadas a cada personagem, com os trejeitos típicos de cada um deles. Ainda que os autores nos dêem uma estrutura do fantástico universo que criaram, nossa mente viajará por conta própria, sempre colocando um elemento novo, que o próprio autor ficaria maravilhado ao ver.
Mas, se ler é bom, escrever, amigos, é melhor ainda. Claro, vai muito além de apenas contar uma historinha. É preciso passar para o papel um mínimo de emoções que, com a imaginação, desencadearão o turbilhão de novos sentimentos no leitor. É um exercício muito trabalhoso construir um mundo novo, que será depois reconstruído de acordo com a ótica de quem o ler. Mas ainda assim, é muito bom. É tão bom olhar uma obra pronta e perceber que ali existe quase mesmo que um universo paralelo, muito parecido com o nosso, com as emoções e os fatos cotidianos da vida humana, ou até mesmo um mundo tomado por criaturas impensáveis, extintas ou recém surgidas. É como sair do próprio corpo e vestir a armadura do herói que luta contra tudo pelo grande objetivo que ali escrevemos.
É como brincar de Deus. No mundo que construímos, dispomos das vidas dos nossos personagens da maneira que melhor nos convir. Brincamos de maltratar a mocinha, até que um destemido herói venha para salvá-la e por ela cair de amores. Nos divertimos com as maldades dos nossos vilões, pois, sim, eles dão um especial sabor às histórias. Na eterna guerra do bem contra o mal, é preciso que os vilões desafiem nossos personagens. Criamos também amigos que influenciam nossos protagonistas e os fazem tomar as decisões que nós queremos que eles tomem, mas que não podemos mandar diretamente que façam, porque assim tudo perderia a graça. Com isso temos uma história recheada de aventuras, romance, mistério e fantasia. Tudo encaixado na adequada proporção para despertar no leitor uma determinada emoção.
Enfim, a literatura é uma arte. Tão importante quanto o desafio de representar. Aliás, não fosse a arte de escrever, seria muito difícil haver o teatro como o conhecemos, pois o ator precisa ler e embarcar no universo inventado pelo escritor. Eu ousaria dizer que o teatro é uma evolução da literatura. Ao ator cabe dar ao texto a devida emoção. Não é fácil. Por isso mesmo é uma arte. Transformar palavras em sentimentos em cima de um palco não é algo para qualquer um. É preciso ter o dom, tanto quanto para escrever, com um agravante: O escritor pode ser solitário e, por vezes, tímido, mas o ator precisa ser desinibido e muito seguro de si, pois senão, dificilmente conseguiria transmitir a mensagem ao seu público.
A vida é uma dádiva, e a arte é um dos dons que nos fazem achar sentido em nossa existência. Seja com palavras, expressões corporais, nas pinturas ou mesmo na voz, precisamos dessa arte para, não poucas vezes, dar um colorido às nossas próprias vidas. De todos os ramos do mundo da arte, eu fico com a literatura, que me permite voar de acordo com o tamanho da minha imaginação, sem fronteiras, por onde eu quiser.
E você? Qual sua arte preferida?

3 comentários:

  1. A vida.
    E já que falou sobre escrever, é bom mesmo conversar sobre o ato da escrita pois este pode ser mil coisas para diferentes pessoas. Pode ser necessidade, vontade, dom, diversão...Mas a maneira como fazemos das palavras, nossas, organizando-as em frases e parágrafos, só nós mesmos saberemos o porquê da escolha de cada uma e o tamanho do voo que imaginou para cada uma delas.
    Da mesma maneira como gosto de muitos dos seus textos, fico feliz em saber que gosta dos meus pois na minha opinião, isso não é tarefa fácil. Acho que não escrevo imaginando o que outro vai entender disso ou daquilo e por isso considero uma escrita perigosa e dificilmente apreciada. Mas de vez em quando acontece assim como ocorreu de você gostar de alguns textos meus, e por isso venho aqui com dois objetivos: me desculpar se alguma vez você for até lá (no blog) e se sentir perdido por não conseguir achar sentido em algum texto, mas a maioria deles nascem para me acalmar e isso é delicado demais; quero também agradecer e parabenizar pela discussão que abordou aqui. Ah! E claro, espero sim que, de uma maneira ou de outra, você possa sempre passar lá pelo meu blog!

    bjs.

    ResponderExcluir
  2. Arte, pra mim, é quando o artista se expressa, tirando de dentro dele coisas que ele não sabe como falar, ou como agir. Ele transforma aquilo em arte. Arte pra mim não é apenas uma fotografia cheia de cor ou um rabisco sem sentimento, sem um significado verdadeiro. Como saber se é verdadeiro? Pelo que você falou: pelo SENTIMENTO.

    A gente bate o olho e sente aquela melancolia. A gente escuta uma música que nos mergulha na nostalgia. A gente lê um texto e ri. Coisas assim. Dentro disso, amo todas as formas de arte. Pro resto, um beijo.

    Gostei da CLAREZA desse texto. Um dos seus melhores, por sinal. E você pode se considerar um grande artista, Léo, pois você não só transmite sua voz, sua essência, como também capta a de vários outros e lhes dá voz. Eu sou um escritor (super amador) também, e me senti falando através de seu texto. E só um dos bons consegue isso.

    Parabéns.

    ResponderExcluir
  3. A vida em si já é uma arte, dotada de coisas belas que só os olhos dos bons conseguem admirar!!!

    Mas para mim, a verdadeira arte é aquela que descobrimos dentro de nós mesmos, é aquela que expressa sentimentos, através de palavras, de gestos, de músicas...

    Cada um tem a sua própria arte, seja a arte de escrever, de atuar, de amar...Enfim sou admirante de todas elas, e acho que sem elas não possamos dar um sentido a mais em nossas vidas!!!!

    Parabéns, Leo!!! Texto mto bom!!!
    Bjs

    ResponderExcluir