Grãos

Fechei a porta do carro sentindo minhas mãos tremendo. Segurei a bolsa e respirei fundo enquanto o calor daquele fim de tarde me fazia suar. Mas, ainda com a temperatura muito alta, eu suava frio.
- Onde ele está? – Meu pai perguntou.
- Está vindo... – Respondi mantendo meus olhos fixos em uma das saídas. Ele apareceria ali.
Os minutos pareciam eternos, como se já não bastasse todo o vento, poeira e atraso que enfrentei só para estar em pé naquele chão de lajotas vermelhas.
Alguém saiu correndo da saída central e meu coração vacilou.
Ele parou. Voltou a correr, exatamente na minha direção. 
Era quem eu esperava.
Era quem eu imaginava como seria ter ao meu lado, era quem eu sonhava com o sorriso e queria saber que sabor os lábios tinham. Era quem eu queria contar as pintas, segurar as mãos. Era meu novo Amor.
E sem pensar, e sem me deixar respirar ou dizer qualquer coisa, me tomou rápido nos braços.
Eu ouvi o som da sua risada, eu vi seus olhos se encherem de lágrimas, eu segurei a mão trêmula.
Eu caminhei do lado, eu acreditei em tudo que eu tinha guardado dentro de mim. 
Seus braços enfeitaram meu busto e um beijo ficou cicatrizado em minha nuca, lembrar desse me provoca leves arrepios.
- Todo arroz que a gente come vem pra cá... – Sussurrou segurando meu braço e provocando choques.
- Verdade? – Foi a única coisa que consegui dizer.
- Não, mas parece arroz, toca... – Guiou minha mão para onde a dele estava. Me sorriu enquanto as luzes ficavam baixas, fazendo eu me aproximar mais.
Olhei o perfil e os lábios levemente abertos, como eu vi (virtualmente) tantas vezes.
Os dedos brincavam com os meus, eu procurava teus sinais.
Eu encarava os lábios, as pupilas dilatadas. E vice e versa. 
Ainda me faltava o ar, era alegria demais, eu não conseguia respirar.
Apesar de saber que logo iria me despedir e por conta disso, morrer de novo de uma Saudades que agora era mais concreta do que nunca, eu estava coberta de certezas. Ele havia se tornado a minha certeza.
Os braços mais uma vez me enfeitaram, mas agora era minha cintura. Seu rosto pousou em meu ombro e ele falou ao meu ouvido. Céus, desliguem todos os relógios, parem o tempo!
Eu não queria ir, eu não queria que ele ficasse ali. Até que seus olhos esmagaram meu coração!
Porque despedidas doem tanto assim? Porque meu peito pesava? Porque eu não disse que o Amava o suficiente para passar tudo de novo? Porque as palavras fugiram?
Eu apenas sorri. Eu queria dizer que logo ele iria voltar, que eu passaria um dia com ele, que eu andaria debaixo dos vitrais coloridos, que eu o beijaria nos bancos de madeira. Mas eu nada disse. Eu apenas sorri e o vi ficando cada vez mais longe pelo retrovisor do carro. Mais longe da cidade, mais longe da praia, mais longe de mim.
Ele, de volta para o velho oeste, eu aqui no calor sentindo todo o frio do mundo.
Quero andar do teu lado de novo.

Andresa Alvez

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