Depois de Agosto

Era mais de uma hora da manhã quando o celular tocou. Eu estava acordada, as dores e o desconforto me impediam de dormir.
Ao ler o nome no visor, eu já sabia que iria atender alguém aos prantos.
- Alô? – Perguntei com a voz baixa.
- O-oi Amor... – Respondeu com um soluço.
Minhas mensagens não chegavam, e ele mal sabia onde eu estava.
Eu? Eu havia mudado de plano, nada daquilo era pra ser. Aquela ligação não era pra estar acontecendo.
A nossa história tinha dado um giro. Internamentos, fraturas, cirurgias. Porém, nenhuma das minhas dores poderiam ser comparadas a dele.
Grandes doses de remédio me fariam melhorar, pinos e pontos bem costurados me fariam ficar nova. Mas esse, não era o caso dele.
Eu nunca sei como o tempo conserta um coração despedaçado, eu nunca sei como a vida se encarraga de estancar as lágrimas.
Lá estávamos nós dois. Tão longe e tão perto, tempos antes nunca imaginaríamos aquilo.
Às vezes a vida faz disso, nos dá pessoas pra curar, pra sarar.
O barulho dos carros na rua, as macas passando pelo corredor, as crianças chorando nos outros quartos; nada de diferente do que se passava ali, nada de estranho em relação ao que tínhamos naquela madrugada: Toda a dor e todo o peso do mundo.
Era o fundo do poço, nós estávamos no mesmo lugar.
Com o passar dos meses, o peso diminuiria, e a dor também.
Mas ali, a única coisa que tínhamos, era um ao outro.

Andresa Alvez

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