“Mesmo que entristecidos, / Não chorem minha morte. / Dela não sabem nada. / Lamentem a morte de muitos / Pela autodestruição crescente / da humanidade acabada.”
Há muito tempo, o Professor Marcelo Freitas – sábio mestre em filosofia – havia escrito os versos destinados a sua lápide. O epitáfio escolhido era de conhecimento de toda a família e seus amigos mais próximos reconheciam naquelas palavras a tradução de sua maneira de viver. A simplicidade, a generosidade e a gratidão eram traços marcantes de sua personalidade. As palavras do professor estavam escritas em um banner providenciado para a ocasião.
- Morreu o professor de todos nós – começou assim o discurso de Paulo Freitas, irmão e amigo mais íntimo do falecido.
O professor fazia questão de cultivar seus laços familiares. Refutava a tese de que irmão a gente não escolhe. Acreditava que os irmãos eram presentes da vida e serviam como base, alicerce de crescimento uns para os outros e sustentáculo nos momentos desfavoráveis. Deixou a vida novo, aos cinquenta e cinco anos. Assim como os grandes pensadores, só durou o tempo necessário para fazer história.
- Morreu o professor de todos nós – repetiu – Aquele que nos mostrava a cada ação o sentido para o qual aponta a verdadeira felicidade. Marcelo não era um irmão somente para nós, os irmãos de sangue, era um exemplo de fraternidade para todos aqueles que o procuravam. Parecia conhecer os caminhos da vida melhor que qualquer um. Tinha sempre uma palavra simples, porém inteligente que, apesar de todo o sentido enigmático, nos fazia encontrar a luz, refletir a cerca do real, abandonar as falsas crenças e avançar em última instância. Este epitáfio escrito por ele é hoje ensinamento para nós e será completado por cada um dos amigos aqui presentes. Nos discursos, nos sentimentos e nas mensagens. Obrigado amigo! Que Deus o abrace como você nos abraçou.
Desceu o irmão. Subiu o companheiro da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais. O titular da cadeira de Estética era sem dúvida um dos mais esclarecidos e sensíveis professores do departamento.
- Marcelo era mais que um professor. Não há adjetivação que sequer beire a perfeição intelectual e correção moral que ele conseguiu atingir. As limitações de nossa linguagem são conhecidas pelos estudiosos da área e eu, que não me dedico ao estudo das letras tão severamente, não poderia me dar ao luxo de tentar fazê-lo, pois a imperfeição com que me colocaria, seria imperdoável. Vá em paz amigo. E obrigado pelos ensinamentos.
A viúva chorava copiosamente. Perdera o marido, o amigo e, acima de tudo, a referência de vida. Marcelo era seu mentor, seu conselheiro, seu amor maior. As filhas, Marina e Gabriela abraçavam a mãe com carinho. Não choravam. Estavam felizes. O pai conseguira transmitir a elas a alegria de ter feito a diferença no mundo ainda em vida. Com suas contribuições acerca da Filosofia Ética, Marcelo enriquecera o debate político moralizador no país. Era considerado o precursor do movimento. Isso bastava para as duas.
Tomou o púlpito o tio mais novo do professor. Beirava os sessenta anos. Companheiro de Marcelo desde a adolescência tardia. Servindo-se ainda de um copo de água, começou:
- Marcelo... O que dizer? O melhor e maior pinguço que já conheci! – terminou.
Gustavo Dias
Interessante fim.
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