Brincando no Natal

Era dia de natal, mas não dia 25 propriamente. Dia 24, porém, para Arthur, era o dia de ir pra casa da vovó brincar até escurecer e esperar a ceia. A ele, isso bastava.
Às 18h, chegaram Tio Luiz, Tia Amanda, Marquinhos e Duda. Tão logo chegaram ao segundo andar, a campainha já tocava novamente. Arthur desceu. Tio Henrique, Tia Natália, Jorge e Matheus chegaram juntos com Tia Marina (separada) e outros dois primos: Paulinho e Eduardo.

A ceia era preparada no segundo andar, área aberta, onde todos se sentavam em uma mesa enorme, com quinze lugares. O cheiro de pernil já tomava conta do ambiente. O banquete vinha sendo preparado ao longo de três dias. Ao canto, uma mesa repleta de frutas exibia os exemplares mais brilhantes.
O esconde-esconde começou lá em baixo. Tio Henrique já anunciava no segundo andar:
- Ah! Já estava na hora! Vai começar.

Ao fundo, Paulinho estava aos berros:
- ... Vinte e nove, trinta, teum, tedois, tetreis...

O barulho que vinha da escada era de aterrorizar. Arthur e Marquinhos subiam aos tropeços, enquanto Duda, dez degraus atrás implorava:
- Espeeeera!

Com apenas sete aninhos parecia não ter entendido ainda a dinâmica do jogo.
- Psssiiuu! – Todos respondiam em coro.
- Então me espera!
- Prontos ou não, lá vou eu!

Lá de baixo veio o grito. Silêncio.
- Tio. Onde tá o Dudu? – Sussurrou Paulinho ao encontrar toda a família no segundo andar.

Não se ouvia uma respiração. E tudo levava a crer que a boca de Duda estava sendo tampada por todos os demais primos. Embaixo da estante era certo que havia alguém. Esconderijo clássico, utilizado desde a geração passada. Tio Luiz havia mostrado os benefícios dele no outro natal.
A criançada era tão profissional que bastou um leve desvio de atenção de Paulinho, ao pegar a uva mais roxa da mesa e leva-la a boca, que, pelas suas costas, já passaram Jorge e Eduardo descendo as escadas em ritmo de guerra.
- Bati!
- Salvo! – Completou Eduardo.
- Não valeu! Eu tava pegando uma uva.
- Ainda faltam quatro. - Anunciou Tio Henrique.

Saiu. Deu a volta na mesa. Passou em frente à churrasqueira. Olhou atrás de três portas. Até dentro do tanque verificou.
- Bati! – Gritou Marquinhos, que parecia ter brotado do chão.

Ainda lhe restavam Arthur, Matheus e a pequenininha. Do lado oposto da mesa, saiu Arthur, não sem antes bater a cabeça no tampo. Com um galo na cabeça e Paulinho em seu encalço:
- Salvo! Ai! Ai! Ai! – Foi o que se ouviu.

Paulinho levou mais dez minutos. E seria meia hora se o alarme não tivesse tocado:
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai! – Alguém estava chorando.

Todos foram acudir Matheus, que saiu de baixo da estante. Parecia ter perdido um dedo quando, correndo, procurou a mãe, apertando a mão direita com a esquerda aos prantos.
- Bati! - Duda não foi vista e colocou números finais no jogo.

Foram cinco salvos e um ferido.
Gustavo Dias

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