As encalhadas

Formavam um grupo de cinco meninas, como gostavam de se denominar. De meninas mesmo não tinham nem as bonecas mais. Reuniam-se sempre às segundas-feiras para assistir um bom filme. Às terças, jantavam fora. Pulavam as quartas. Gostavam de apreciar os atrativos culturais da cidade às quintas e, às sextas, saiam sem rumo procurando a balada do momento. 
Fernanda, a mais velha, estava na casa dos quarenta, dizia ter trinta e cinco. Havia se separado do marido há não mais que dois anos e, por influência de Márcia, a melhor amiga, acabou entrando para a trupe. Márcia, a mais conformada de todas, nunca estabeleceu um relacionamento de mais de três meses. Carolina estava com seus trinta e seis anos e, há mais de cinco, não descolava um gatinho. Ana Paula tinha o grupo como um ponto de apoio para os períodos de seca. As amigas a auxiliavam muito nos momentos de transição. Flavinha era a novata. Estava com as mais maduras havia exatos seis meses e já notara diferença em seu quadro emocional.
Era uma quarta-feira, por volta das 16h, o telefone tocou: 
- Pronto. – Márcia atendeu. 
- Marcinha. Desculpa te atrapalhar aí. Tô com uma angústia. O Carlos me ligou e eu preciso me encontrar com ele. Não sei o que eu faço. 
- Nanda... De novo? 
- Dessa vez é sério. Eu senti sinceridade na voz dele. 
- Amiga, segue seu coração. – Desligou o telefone. 

Três celulares vibraram ao mesmo tempo: “Precisamos nos reunir hoje em caráter extraordinário. Quem topa? O Carlos ligou de novo e não podemos deixar isso acontecer.”. Era a mensagem que se lia. 
- Onde? – (Flávia Moraes). 
- Não é possível! De novo? – (Carol Araújo). 
- Vamos lá pra casa. – (Ana Paula). 
- Não! Tem que ser um lugar diferente pra convencer a Nanda. Pensei no Albatroz. O Paulo aqui da empresa tá indo om uns amigos. – (Márcia Pedrosa). 
- Por mim, ok. 
- Fechou. 
- Ok. 
- Quem liga pra ela? – (Flávia Moraes). 
- Você! 
- Você! 
- Você! 

O telefone tocou até as seis e meia e nada de Fernanda atender. Na certa já havia antecipado a movimentação do grupo. Uma ligação da Flavinha logo após ter aberto o jogo pra Marcinha não podia ser uma coincidência. Resolveu não atender. Flavia insistiu. 
- Alô? 
- Nandaaaa! Joia? 
- Oi Flavinha. Que empolgação é essa? 
- Vamos para o Albatroz hoje. E todo mundo já confirmou. Um amigo meu tá indo com uns amigos pra lá e nós também vamos. Tamos pensando em chegar umas oito. Ok? 
- Amiga. O Carlos me ligou. Tô precisando disso. Tem seis meses que eu não saio com alguém. Acho que não vai dar. 
- Não vou nem falar nada. O Carlos você conhece. Esquece isso! O Paulo disse que tem um amigo super interessado em você. Tô te esperando lá. Beijão. – Desligou. 

Às oito e meia, todas já haviam chegado, menos Fernanda. O celular na caixa postal acusava o seu destino fatal. 
Conversa vai, conversa vem, Flavia se enganchou com Maurício, amigo de Paulo, que já se comprometera por uma noite com Marcinha. Fernando, um outro amigo bem apanhado, flertava com Ana Paula enquanto Carol paquerava um moleque de quase trinta. 
Dez horas em ponto, chegou Fernanda moribunda. Carlos havia dado o bolo. Chegou ao seu apartamento dez minutos após a saída dela em direção ao Albatroz. Os mesmos minutos poderiam ter sido economizados no banho, mas este era essencial. Atrasara em virtude de ter levado quinze minutos além do planejado para consumar o ato com Mari, uma ninfetinha de vinte e dois que ganhou seu coração. 

Pelo menos por uma noite, o grupo resumira-se a uma: Fernanda, a encalhada.

Gustavo Dias

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