As belezas pela internet: "RRR"

Para mim é uma honra e um imenso prazer ter, abrindo o mês de novembro, um texto do meu amigo querido Enrique Coimbra, do Ironias Sociais. Este é um jovem escritor de muito talento, residente no Rio de Janeiro, que já participou do Literatura Exposta em outras oportunidades, seja abrindo algum mês, seja como fonte de dois "Livro em Cena", seção de roteiros adaptados deste blog, quando trabalhei em cenas de seu weblivro Lado B, que conta as aventuras e descobertas de Éron. Desta vez, Enrique fez algo que lembra poesia concreta. Eu enxerguei isso pela disposição do texto dele, algo que fiz questão de manter aqui. Além disso, o texto em si é de uma profundidade incrível. 
Boa leitura!

RRR
Por Enrique Coimbra

Se eu pudesse comer o que foi poupado de seus lábios.

Finalizei minha obra de arte contemporânea, idealizei e planejei um jeito de te fazer perfeito, de me fazer achar que você é perfeito, para que eu sacie minha vontade de precisar de alguém, meu egoísmo. Evitei tons pastéis e ardi em saturação. O vermelho gritou acima da tela, como quem pede socorro.

SOS. RGB. CMYK.

Roubei-lhe a liberdade, dedurei seus segredos. Me apossei de seus sentimentos castigados, de uma corrente pretensiosa de religião e paixão, os dogmas celestinos de bondade que fingiu pregar. Preguei suas palmas sobre a textura do A3. Suas veias murcharam, descenderam, decadentes, supérfluas por acharem que seu sangue poderia ser livre. Não deixo uma gota escapar de minha visão. Você me pertence.

Mastigo agora seu coração, flambado com alpiste e poços de rum. Salpico o sal para expulsar, talvez adocicar o que você escondeu. Esse cheiro me agrada. Odor. A dor. Pele sob as unhas, sujeira sobre as alcunhas. Todos meus. Você está aqui. Minha obra de arte contemporânea, fruto dos devaneios modernos ultrapassados, degenerados.

Sinto seus pés com minha língua, sei por onde já andou. Suas rotas, seus caminhos, seu destino é agora o ponto final, sua jornada não precisa continuar. Dentro de mim, me torno seu mundo. Eu sou tudo que você quer ver. Sou o observador observado pelo que é observado. Eu sou seu paradoxo, seu bem e seu bom.

Me tome para si, assim como te tomei para mim: de canudo.

Um comentário:

  1. A poética do Coimbra é invejável.

    Não sei se poesia concreta Léo. Devo discordar um pouco. Não consegui enxergar tantos atributos que atraíssem meu olhar à construção sistêmica de palavras como tijolinhos. Mas, a concatenação dos versos do Henrique escancaram um poder, evidenciam uma força fantásticos.

    Parabéns.

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