Vinho, filme, dois corpos e um amor...

Uma bela garrafa de vinho. Duas taças recheadas, que vão se acabando aos poucos, logo sendo repostas. Um bom filme a dois. Frio. Uma coberta quentinha. Dois cheiros de perfume que se completam. E ali, dois corpos que se amam. Juntos. É como se pelo menos por aquele instante, as paredes daquele quarto fossem o mundo dos dois. Eram duas almas entregues não apenas ao furor da paixão, mas aos desígnios ditados pela força do amor que existia dentro de cada um e naquele ambiente como um todo. Ah! E como é bom amar...
O tempo não era um inimigo dos dois. Eles nem estavam ligando para as horas que corriam. O que valia ali era ficarem juntinhos, corpos colados sentindo o calor e o perfume que exalava entre eles. Quando estamos nesses momentos, caro leitor, a última coisa que pensamos é no dia de amanhã, com as inquietudes que a vida social nos impõe. É preciso nos desligar da realidade dos nossos dias, tão mecânicas e maçantes, para, inclusive, termos força para enfrentá-las novamente. E nada melhor que fazer isso ao lado de quem nós amamos. 
- O que você achou do filme? – Ela perguntou, olhando-o com aqueles olhos doces como o mel e refrescantes como hortelã. 
- É bom. Gostei. Você sempre me trás essas novidades boas. To me acostumando mal, hein. – Ele disse, sorrindo. 
- Bobo! Mas, ah, eu amo drama. Quanto mais dramático, mais eu gosto. Eu sou um drama. 
- Você é o melhor romance que eu já li. 

Ela sorriu. Deu nele um beijo e foi levar as coisas para a cozinha. Ele ficou ali, extasiado pelo momento. Numa noite de cinema, um filme passava pela cabeça dele. Tudo que aquele amor já enfrentou. Momentos alegres, e momentos de tristeza. Momentos com os quais se constrói uma vida. Passagens que nos moldam. Que fazem nosso coração bater mais forte, e transformam nossas existências em vida. Sim, ele tinha certeza de que aquilo que sentia era amor. Só isso explica tudo que já passaram para viver essa noite onde um quarto é o mundo todo. 
Ela chegou, deitou-se ao lado ele, que a envolveu em seus braços, mantendo-a junto do seu corpo. Ali eles ficaram por algum tempo. Sem nada dizer. Apenas sentindo-se. Na mente dela também passava um filme. Muitas coisas já aconteceram naquela vida ainda tão jovem, recém-chegada à vida adulta. 
- Posso te fazer uma pergunta curiosa? – Ela falou baixinho, quase um sussurro. 
- Claro! 
- Você conseguiria se abrir para conhecer outras pessoas? 
- Eu to sempre aberto a conhecer gente nova. Só não para amar. 
- Mesmo eu sendo desse jeito maluco? 
- Sim. Eu te conheci assim, e te amo desse jeito. E sei que dentro desse coração aí, tão instável, tão cheio de montanhas-russas, também existe amor por mim. 
- Você... 
- Existo sim. E viveria tudo que nós vivemos outra vez, e outra, e outra... 

Ela o interrompeu com um beijo. A noite era dos dois. Só deles. E eles a viveram intensamente. Aquele certamente não era o lugar de dormir. Afinal, acima dos dois havia apenas um céu recheado de estrelas, que velavam o amor dos dois que, num quarto de apartamento, fizeram o seu mundo. Aquilo poderia não ser um resumo da vida, mas certamente era uma das melhores sensações que experimentamos quando aproveitamos com intensidade o que é “viver”.

Leonardo Távora

Um comentário:

  1. O estado do ''amor'' é realmente algo muito curioso. Meio clichê talvez, meio cafona... e que leva as pessoas a essa individualidade dúbia, de um bastar ao outro. Mas fato que é algo buscado por todos, essa conexão a dois, essa afinação... e isso que nós faz estar dentro desse cenário tão batido, como o clássico programa ''namoro, filme, frio, cobertor'' sem se sentir ridículos, muito pelo contrario... Um brinde ao amor!

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