Carne, Ossos, Tripas e Amor

Um título um tanto quanto direto para quem é capaz de assimilar estas palavras. Digo direto porque, é isto o que somos e disto não passamos; Apenas carne e osso e tripa. Nem sempre Amor. Mas bem verdade é que, alguns de nós são mais Amor do que carne. Alguns tripas por Amor e Amor até os ossos.
Iguais, eu julgo. Rim, coração, pele, sangue, intestino. Iguais. O que nos faz apontar o dedo e determinar um belo “amontoado” é o que é possível enxergar aos olhos, e imaginar a possibilidade de ser palpável.
Carne. Alguns pedaços são mais atraentes, claro. Mais corados, mais cheios de vida... dá vontade de comer só de olhar! Outros podem apresentar uma coloração nem tão chamativa assim; Talvez seja pequeno demais, ou com uma camada de gordura muito grande, ou até mesmo, pode ser aos seus olhos, nojento. Carne, e só.
Mas o que “vale”, o que realmente nos prende, é o abstrato, o alucinógeno. Quero aqui registrar, que eu gostaria muito que cessassem em mim as vontades loucas de tentar explicar sentimentos. Se possível será, não sei. Mas gostaria.
O abstrato alucinógeno. É como um cigarro de maconha. Papel, erva, fogo e saliva. Mas o que te leva à outra dimensão, e te faz flutuar, talvez perder o juízo, são as substâncias que adentram sua boca, e tomam conta de você por inteiro. A fumaça. Comparo isto aos sentimentos. Carne, osso, tripa e só. Só! Não somos nada mais do que isso.
Mas, um timbre de voz é suficiente; A forma como se arregaça a boca a se mostrar em dentes é suficiente. Uma gentileza é suficiente. Você inala doses de fumaça, e pronto. O amontoado te derruba. Te faz esquecer a condição existencial de apenas carne e osso, e te entorpece, a ponto de cometer loucuras. É bem possível que você se torne um dependente, e por um momento não crê que sua existência seja possível sem o amontoado e a sua “fumaça”.
Erva, papel, saliva e fogo, eu desconheço. Mas conheço bem a dependência avassaladora. Sim, por amontoados. Por um pedaço de carne, ossos e tripas. Deste amontoado saía uma fumaça que me entorpecia, e me permitiu loucuras.
Mas tudo o que me prendia a você era o abstrato alucinógeno que fluía dos teus canais. No mais, és apenas tripa e pele, como eu. Reconheço que és o amontoado de carne mais bem feito, corado, e apetitoso. Mas são só... Formas. Eu também as tenho. Pele e tripa. Tenho.
Vencido pelo cansaço. Cansaço de surrar os meus pedaços. De Amar até os ossos.
Quero agora, canalizar isto tudo às necessidades físicas.
Para a sede, água; Para a fome, comida; Para carência, queridos. Para desejo, carne, e ossos, e tripas, e só!
Amor, não. Não agora. Não para com amontoados. Estou em processo de reabilitação.

Cláudio Rizzih.

4 comentários:

  1. É preciso sentir. Sem sentimento somos apenas um amontoado mesmo de carne, ossos e tripas. Existimos, mas não vivemos, pois viver significa sentir... Sentir amor, amizade... Sentimentos duradouros quando expressam verdade. Sentimentos que não se vão com a primeira barreira que vemos à nossa frente!

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  2. O que está por fora, de nada importa; o que realmente vale é o que temos dentro, que ninguém vê, mas que é possível sentir.
    Um dos melhores textos que eu já li de você, Claúdio. Simplesmente adorei!

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  3. ehh tudo verdade... somos apenas carne, ossos e tripas...
    mais tambem naum somos nada sem amor que nos faz flutuar e acreditar que tudo ainda pode dar certo...

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  4. fui carne, ossos e tripas imbuídos de maior significado no momento em que lia este texto. Achei interessantíssima a dualidade que você coloca no final ("para a sede, água; Para a fome, comida; Para a carência, queridos. Para desejo, carne, ossos e tripas"). De fato, cada elemento (água, comida, queridos) só faz sentido para a vontade correspondente, afinal, qual o sentido que um faminto atribui à água? Mas estes passam; Passam assim que saciados. Mas não se a água caindo no copo tem o som das gotas de chuva em um dia solitário; Não se a comida exala o cheiro da infância na casa velha dos avós; Não se a falta de certos queridos corta a alma na carência... acho que são bem por aí as carnes, ossos, tripas e -adaptaria aqui- amores [afinal, não apenas o amor romântico nos torna menos carne, osso e tripa, embora seja esta a forma mais eficaz ;) ]

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