Mestres da escrita: "Dostoievski"

Hoje o Literatura Exposta tem a imensa alegria de começar o mês com um dos maiores escritores do mundo. Fiodor Dostoievski é inconteste. Sua última obra, “Os Irmãos Karamazov”, é considerada por Sigmund Freud como o melhor romance já escrito. Abaixo, segue um pensamento deixado por ele no “Diário de um escritor”, muitíssimo pertinente nos dias de hoje. Note que essa obra foi escrita no século XIX, e até hoje se faz atual. Será que evoluímos? 
Boa leitura! 

Os Verdadeiros Burros e os Falsos Loucos 
Fiodor Dostoievski 

O mais esperto dos homens é aquele que, pelo menos no meu parecer, espontaneamente, uma vez por mês, no mínimo, se chama a si mesmo asno..., coisa que hoje em dia constitui uma raridade inaudita. Outrora dizia-se do burro, pelo menos uma vez por ano, que ele o era, de facto; mas hoje... Nada disso. E a tal ponto tudo hoje está mudado que, valha-me Deus!, Não há maneira certa de distinguirmos o homem de talento do imbecil. Coisa que, naturalmente, obedece a um propósito. 
Acabo de me lembrar, a propósito, de uma anedota espanhola. Coisa de dois séculos e meio passados dizia-se em Espanha, quando os Franceses construíram o primeiro manicómio: «Fecharam num lugar à parte todos os seus doidos para nos fazerem acreditar que têm juízo». 
Os Espanhóis têm razão: quando fechamos os outros num manicómio, pretendemos demonstrar que estamos em nosso perfeito juízo. «X endoideceu...; portanto nós temos o nosso juízo no seu lugar». Não; há tempos já que a conclusão não é lícita. 

in "Diário de um Escritor”

Biografia
Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski nasceu em Moscou, no hospital onde seu pai, Mikhail Andriéievitch Dostoiévski, clinicava. Mikhail, apesar de imprimir uma disciplina severa à família, incentivava os sete filhos ao amor pela cultura. Em 1837, a mãe de Dostoiévski morreu precocemente de tuberculose. A perda foi um choque para o pai, que acabou mergulhando na depressão e no alcoolismo. Fiódor e seu irmão foram então enviados à Escola de Engenharia, em São Petersburgo. 
Em 1839, morreu o pai de Dostoiévski. As causas são controvertidas, e uma das versões é que o pai – que tinha fama de avaro e de violento – foi assassinado pelos servos enfurecidos com os maus tratos. Dostoiévski culpou-se durante toda a vida pelo fato de, em várias ocasiões, ter desejado a morte do pai. Essa questão da culpa, que acabou transparecendo em sua obra, foi estudada por Sigmund Freud no famoso artigo "Dostoiévski e o parricídio", de 1928. 
Em 1843, concluiu os estudos de Engenharia e obteve o grau militar de subtenente. Durante esses anos, dedicou-se à tradução, incluindo a obra de Balzac, um autor que ele admirava. Em 1844 abandonou o exército e começou a escrever a novela Pobre gente, obra que recebeu uma crítica positiva no seu lançamento. Foi nesta época que contraiu dívidas e sofreu o primeiro ataque epilético. À primeira obra, seguiram-se Niétotchka Niezvânova (escrito entre 1846 e 1849), Noites brancas (1848), entre outras, que não tiveram a mesma acolhida da crítica. 
Enquanto isso, Dostoiévski engajou-se na luta da juventude democrática russa pelo combate ao regime autoritário do Tsar Nicolau I. Em abril de 1849 foi preso e condenado; em novembro do mesmo ano, acabou sentenciado à morte pela participação em atividades antigovernamentais junto a um grupo socialista. No dia 22 de dezembro, chegou a ser levado ao pátio com outros prisioneiros para o fuzilamento, mas, na última hora, teve a pena de morte substituída por cinco anos de trabalhos forçados na Sibéria, onde permaneceu até 1854. 
A experiência abalou profundamente o escritor, que iniciou o romance Memórias da casa dos mortos, publicado em 1862. Alguns anos antes, Dostoiévski conheceu María Dmítrievna Issáieva, viúva de um maestro, com quem se casou em 1857. 
Retornou a São Petersburgo em 1859, dedicando-se integralmente a escrever, produzindo seis longos romances, entre os quais suas obras-primas Crime e Castigo (1866), O idiota (1869) e Os irmãos Karamazóv (1880). É também dessa época a criação da revista Tempo, em cujo primeiro número apareceu parte de Humilhados e ofendidos, obra que também remete à sua experiência na Sibéria. A década de 1860 é marcada por viagens pela Europa, período no qual conheceu sua grande paixão, Paulina Súslova, que acabaria o traindo. Após a decepção amorosa, Dostoiévski voltou para a esposa, que morreu logo depois. 
Solitário, endividado e tendo que sustentar a família do irmão recém-falecido, o escritor ditou O jogadorpara a sua secretária, Anna Grigórievna, com quem se casaria depois da recusa de Paulina em reatar o relacionamento. O livro é um sucesso e colabora para restabelecer suas finanças. Logo depois de publicarCrime e castigo, viajou com a nova mulher para Genebra onde nasceu a primeira filha que morreu logo em seguida. A partir de 1873, passou a editar a revista Diário de um escritor, na qual publicava histórias curtas, artigos sobre política e crítica literária. 
Em 1880 participou da inauguração do monumento a Aleksandr Pushkin, em Moscou. Na ocasião, pronunciou um memorável discurso sobre o destino da Rússia. No dia 8 de novembro do mesmo ano, em São Petersburgo terminou de redigir Os irmãos Karamazóv, em São Petersburgo. Morreu em fevereiro de 1881. 

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