O observador

Então ele estava no aeroporto, esperando seu voo ser liberado para a viagem. Ali, naquela sala de embarque, O que mais chamava sua atenção era o painel com os horários de partida das aeronaves. E tinham previstos, confirmados e atrasados saltitando naquela tela. Ao olhar para os lados, todo tipo de pessoa se avistava. Tinha gente sentada, pensativa. Tinham alguns se acumulando no balcão da empresa que sempre atrasa, e grupinhos... Eles deviam estar saindo de férias.
- O senhor está viajando a trabalho? 
- Não... Não. 
- Ah, é férias, então? 
-Não... É, talvez. Quem sabe umas férias pequenas. 
- Feriado programado! 
- Hã? 
- É, desses que a gente se dá de vez em quando na vida. 
- Ah, tá. É, pode ser. 

Então, tentando demonstrar desinteresse pela conversa, ele voltou a olhar para a sala de embarque. Fitava os variados tipos de pessoas que estavam ali. Para onde será que iriam? Tantos são os destinos do Brasil. Se bem que pelo biótipo de cada um dava pra chutar os destinos deles. “Nossa... Preconceituoso!”, você diria. Mas não é isso. Temos um país muito grande, e cada região tem suas peculiaridades. Então dá pra entender mais ou menos. Só isso. 
- Eu acho que você vai pro Rio de Janeiro. 
- Hum... Interessante. E como você chegou a esta conclusão? 
- Então eu acertei. 
- Eu não disse isso. 
- Ah, se tá indo de feriado programado, vai pra algum lugar mais perto. 
- É... Legal... Mas, não. Você errou. 
- Sério? 

Ele só fez que sim com a cabeça. Não estava mesmo querendo conversa. Preferia olhar o movimento daquela sala. Para ele, aquilo era mais legal mesmo. 
- É... Você não tá querendo conversar, né? 
- Não é isso. É que estou concentrado nos tipos que estão povoando aqui, neste ambiente. Cada um mais engraçado que o outro. 
- Nossa... Engraçado? 
- É... No sentido de interessante, bocoió. 
- Tá bom, tá bom... Eu hein. 

O moço calou a boca. Começou a olhar para a sala também. E realmente ficou entretido vendo as pessoas que estavam ali. Mas não conseguia mesmo segurar sua curiosidade. Enquanto um gostava de ficar observando, o outro queria mesmo conhecer o mundo perguntando. Sim, as pessoas são diferentes. E que bom... 
- Mas pra onde você vai? 
- Pra que você quer saber? 
- Ah, curiosidade só. 
- Eu vou em busca da minha felicidade. 
- Ihh... Tá apaixonado. Cuidado, hein. Mulheres não merecem essas loucuras todas. 
- Talvez... 
- É... Talvez. Você não quer conversar mesmo, né? 
- Não é isso. É que eu falo pouco mesmo. 
- Sei. Ela mora muito longe? 
- quem? 
- Sua felicidade. 
- Na distância certa para me matar de saudades. 
- Poeta! 

Ele sorriu. Mas não dava mais para conversar. Ele precisava mesmo ir. 
- Já chamaram o meu voo. Tenho que ir. Mas, vem cá, pra onde você tá indo? Ficou aí perguntando pra mim, mas não disse. 

O moço olhou pra ele e deu um sorriso debochado: 
- Eu? Pro Rio mesmo. É que eu já encontrei a minha felicidade.

Leonardo Távora

2 comentários:

  1. Boa. Massa como muda o foco do personagem. Vida passageira heheh

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  2. Se eu fosse um destes personagens, seria o observador. Também me pego vira e mexe tentando descobrir quem é quem e o que faz. Daí nascem boas ideias. Cada um tem uma vida cheia de histórias, mas na maioria das vezes nem nos damos conta disso.
    Que legal, Leo, sempre me identifico com suas histórias, seus personagens. Acho q é pq vc consegue falar da essência q temos.
    Abraços. Celso.

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