Sem exceção

Sentada na cadeira creme de uma sala tão branca que chegava a cegar, ela se questionava.
O barulho dos termômetros, dos aparelhos cardíacos e das enfermeiras andando apressadamente abafavam os choros e os medos. Ambos gritavam.
Ela conversava com seus braços e pernas, procurando uma resposta para tudo aquilo. Ou para tudo isso, já que o passado não a abandona.
Procurou uma palavra que desse fim.
"Dar fim"... Ela já havia tentado isso uma vez, porém, como se pode perceber pois é esta quem vos escreve, não teve o resultado esperado. Em um momento como agora, ela queria que tivesse tudo saído como o planejado naquela noite de junho de 2007.
Ela queria ser normal, não ser feita de linhas e cortes mal feitos.
Ela não queria mais ser de porcelana, vidro ou cristal.
Ela queria ser de carne! A carne que ela tanto deseja. A carne que tanto a rejeita.
Ela queria ser um pedaço de ferro, uma rocha, ou uma fortaleza.
Naquele fim de tarde, durante um silêncio que doía, ela queria ser comum.
Não queria ser preferencial, ou ter permissão para furar filas.
Ela queria precisar ficar em pé por meia hora na fila de um banco e não sentir dor por culpa disso.
Ela queria poder correr e cair mil vezes, sem se machucar nenhuma delas.
Agora, no meio das lágrimas, ser mais uma na multidão parecia ser mais tentador do que ser a garota com a pulseira de identificação no braço que dizia "Urgente! Tenha cuidado!"
Andresa Alvez

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