Ultimato ao amor

Dei um ultimato ao amor. Decidi que ou ele se decidia ou estava tudo decidido. Não aceitaria mais viver as suas desventuras atrapalhadas que a cada dia me traziam uma nova desilusão. Por muitos dias eu havia implorado, tentei negociar e propus uma retirada pacífica. Não adiantou. O amor, duro e custoso não arredava o pé da minha vida bandida.
O próximo final de semana era o prazo limite. Dessa vez as coisas funcionariam conforme minhas determinações. Já havia feito concessões de mais ao sentimento mais nobre e mais ordinário. Não entendia como era possível, mas ao mesmo tempo que me fazia sofrer, mais e mais eu o queria. Sua presença em meu peito era imperativa. Sua ausência, decreto da minha morte espiritual.
Preferi me afastar até que sua decisão fosse proferida. Acreditava que minha presença contaminaria qualquer juízo que pudesse ser produzido. O amor, do alto de sua complexidade, se aproximou novamente, disse que não suportaria ficar tanto tempo longe. Segundo ele era melhor que fossemos amigos.
Nunca entendi essa história do amor querer ser só amigo da gente. A situação posta é mais que clara: Ou se ama e não se pode aceitar uma amizade que acabe em si, ou não se ama e igualmente é forçoso querer impor uma amizade goela abaixo. Disse a ele que não seria seu amigo. Ordenei que se decidisse logo. O amor, entretanto, sempre soube me dominar.
Antes que o prazo se esgotasse, me convocou. Disse que me queria mais que tudo, mas em mim não poderia viver. Pediu que eu não permitisse sua morte nas minhas lembranças. Consenti. Pediu que mais uma vez fossemos um do outro e, como que um último suspiro, nos entregamos à paixão e nos demos adeus.

Gustavo Dias

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