Um mineiro a la paulista

Mineiro, segundo o dicionário mais confiável que se tem nesta terra, é um povo acolhedor que adora nomear tudo o que se vê, ouve ou sente com o famoso “trem”, sempre está pronto para tomar um cafezinho com pãozinho de queijo quentinho, isso mesmo, tudo no diminutivo que é pra dar mais tempo de prosear com os amigos, colegas e família, sem claro deixar de observar as coisas quietinho.
O jeito mineiro de ser nunca foi tão posto a prova como nos tempos de hoje, a famosa quieteza mineira, a arte de inventar novas denominações pras palavras, não pode mais ser encontrado nas ruas, no modo de falar, nos relacionamentos interpessoais, estão todos sem tempo. O tempo que o mineiro não tem mais faz falta para as longas conversas, a forma de ser, o modo de viver a la mineira.
Definições clássicas superadas, agora o mineiro só ficou mesmo com o “trem”, patrimônio cultural de Minas Gerais para aquilo que não queremos dar o nome real ou não sabemos o que significa, hoje em dia no que não temos mais paciência para descobrir o que é, nem a preguiça podemos mais ter o luxo de ter. O cafezinho passou a ser somente um café, o pãozinho de queijo, agora somente pão de queijo, tudo em sua forma correta, agora, para ser rápido, com pressa, sem vontade de sentar e bater um bom papo e sem tempo a perder na correria do dia a dia. 
Trabalho, escola, trânsito, dormir pouco, viver estressado, um mostro em que sempre falamos que não viraríamos, o bicho da capital, um animal selvagem criado pela cidade grande. Sem tempo pra si, sem tempo pros outros, sem tempo, o mineiro não consegue mais ser ele mesmo. A cada dia conseguimos matar um pouco do mineiro que ainda insiste em sobreviver em nós, continuo afirmando não temos mais tempo de viver com calma, isto é um luxo. 
Diante de uma possível conclusão, após um longo tempo perdido divagando sobre se ainda me considero um mineiro de raiz ou um paulista wannabe (nunca é bom sinal quando começamos a usar palavras em inglês) acho em meio ao cardápio uma opção um tanto peculiar, um tal de mineiro a la paulista, corro o dedo entre as outras opções e decido ficar mesmo com o mineirinho tradicional, o calminho, quietinho e que gosta de um cafezinho. 
Raízes preservadas, decido e reflito, sou mineiro de coração e alma e agora terei um tempinho para bater um papinho, ficar quietinho no meu cantinho. 
Ao final das divagações e diante das opções do cardápio, acho mesmo que o mais correto a fazer seria inspirar um pouco e dizer ao garçom que chega apressado para anotar o pedido que ao fim não farei mais, desconfiado eu falo:
- A conta por favor, mas antes um cafezinho, não quer se sentar e bater um papinho, conversar sobre
 aquele trem, como é mesmo o nome ?

Marcus Campolina 

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