O nosso Amor era de porta aberta. Você sempre foi livre para ir a hora que bem entendesse.
Eu nunca pude te segurar, eu não tinha nada para isso.
Eu era... Eu. Pequena, ocupando pouco espaço por entre seus dedos e pernas.
Eu não era grande, como as outras moças. Grandes em seios, vozes, cordas, extensões.
Eu sempre ficava no primeiro banco, eu sempre me sentava ao seu lado, mas eu nunca conseguia te decifrar. Eu nunca sabia em quem você pensava ou se você pensava em mim.
Eu fazia fitas, desenhava presentes, eu tentava te agradar; tu me retribuía com sorrisos e beijos demorados, mas isso não era o suficiente.
Corpos e mais corpos rolavam nos teus lençóis, sentavam-se no piso frio do teu banheiro, e um deles era o meu.
Eu não queria ser mais um corpo, eu queria ser aquele que você conhecia.
O nosso Amor de porta aberta parecia dar certo, mas só parecia. Tu se encantou por outros colos, vozes, linhas, cidades e mares. Tu foi procurar o que eu não tinha, e achou.
Eu era só eu, pequena em colos, vozes. Eu vivia num único mar. Eu não tinha como mudar, eu nem queria isso. Eu não sabia como te segurar.
O Amor de porta aberta só serviu porque para você ir embora, eu nem precisei me levantar. Você já tinha chave.
Hoje o meu Amor é trancado, ninguém mais entra, eu não abro as portas pra mais ninguém.
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